quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

“Preconceito contra Bolsa Família é fruto da imensa cultura do desprezo”, diz pesquisadora.

O Programa Bolsa Família fez 10 anos no domingo, dia 20. Quando foi lançado, no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, atendia 3,6 milhões de famílias, com cerca de R$ 74 mensais, em média. Hoje se estende a 13,8 milhões de famílias e o valor médio do benefício é de R$ 152. No conjunto, beneficia cerca de 50 milhões de brasileiros e é considerado barato por especialistas: custa menos de 0,5% do PIB.
Para avaliar os impactos desse programa a socióloga Walquiria Leão Rego e o filósofo italiano Alessandro Pinzani realizaram um exaustivo trabalho de pesquisa, que se estendeu de 2006 a 2011. Ouviram mais de 150 mulheres beneficiadas pelo programa, localizadas em lugares remotos e frequentemente esquecidos, como o Vale do Jequitinhonha, no interior de Minas.
O resultado da pesquisa está no livro Vozes do Bolsa Família, lançado há pouco. Segundo as conclusões de seus autores, o incômodo e as manifestações contrárias que o programa desperta em alguns setores não têm razões objetivas. Seria resultado do preconceito e de uma cultura de desprezo pelos mais pobres.
Os pesquisadores também rebatem a ideia de que o benefício acomoda as pessoas. “O ser humano é desejante. Eles querem mais da vida como qualquer pessoa”, diz Walquiria, que é professora de Teoria da Cidadania na Unicamp.
Na entrevista abaixo – concedida à repórter Isadora Peron – ela fala desta e de outras conclusões do trabalho.
Como surgiu a ideia da pesquisa?
Quando vimos a dimensão que o programa estava tomando, atendendo milhões de famílias, percebemos que teria impacto na sociedade. Nosso objetivo foi avaliar esse impacto. Uma vez que o programa determina que a titularidade do benefício cabe às mulheres, era preciso conhecê-las. Então resolvemos ouvir mulheres muito pobres, que continuam muito pobres, em regiões tradicionalmente desassistidas pelo Estado, como o Vale do Jequitinhonha, o interior do Maranhão, do Piauí…
E quais foram os impactos que perceberam?
Toda a sociologia do dinheiro mostra que sempre houve muita resistência, inclusive das associações de caridade, em dar dinheiro aos pobres. É mais ou menos aquele discurso: “Eles não sabem gastar, vão comprar bobagem.” Então é melhor que nós, os esclarecidos, façamos uma cesta básica, onde vamos colocar a quantidade certa de proteínas, de carboidratos… Essa resistência em dar dinheiro ao pobres acontecia porque as autoridades intuíam que o dinheiro proporcionaria uma experiência de maior liberdade pessoal. Nós pudemos constatar na prática, a partir das falas das mulheres. Uma ou duas delas até usaram a palavra liberdade. “Eu acho que o Bolsa Família me deu mais liberdade”, disseram. E isso é tão óbvio. Quando você dá uma cesta básica, ou um vale, como gostavam de fazer as instituições de caridade do século 19, você está determinando o que as pessoas vão comer. Não dá chance de pessoas experimentarem coisas. Nenhuma autonomia.
Está dizendo que essas pessoas ganharam liberdade?
Estamos tratando de pessoas muito pobres, muito destituídas, secularmente abandonadas pelo Estado. Quando falamos em mais autonomia, liberdade, independência, estamos nos referindo à situação anterior delas, que era de passar fome. O que significa dizer de uma pessoa que está na linha extrema de pobreza e que continua pobre ganhou mais liberdade? Significa que ganhou espaços maiores de liberdade ao receber o benefício em dinheiro. É muito forte dizer que ganhou independência financeira. Independência financeira temos nós – e olhe lá.
O que essa liberdade significou na prática, no cotidiano das pessoas?
Proporcionou a possibilidade de escolher. Essa gente não conhecia essa experiência. Escolher é um dos fundamentos de qualquer sociedade democrática. Que escolhas elas fazem? Elas descobriram, por exemplo, que podem substituir arroz por macarrão. No Nordeste, em 2006 e 2007, estava na moda o macarrão de pacote. Antes, havia macarrão vendido avulso. O empacotamento dava um outro caráter para o macarrão. Mais valor. Elas puderam experimentar outros sabores, descobriram a salsicha, o iogurte. E aprenderam a fazer cálculos. Uma delas me disse: “Ixe, no começo, gastei tudo na primeira semana”. Depois aprendeu que não podia gastar tudo de uma vez.
A que atribui a resistência de determinados setores da sociedade ao pagamento do benefício?
O Bolsa Família é um programa barato, mas como incomoda a classe média (ela ri). Esse incômodo vem do preconceito.
Fala-se que acomoda os pobres.
Como acomoda? O ser humano é desejante. Eles querem mais da vida, como qualquer pessoa. Quem diz isso falsifica a história. Não há acomodação alguma. Os maridos dessas mulheres normalmente estavam desempregados. Ao perguntar a um deles quando tinha sido a última vez que tinha trabalhado, ele respondeu: “Faz uns dois meses, eu colhi feijão”. Perguntei quanto ele ganhava colhendo feijão. Disse que dependia, que às vezes ganhava 20, 15, 10 reais. Fizemos as contas e vimos que ganhava menos num mês do que o Bolsa Família pagava. Por que ele tem que se sujeitar a isso, praticamente à semiescravidão? Esses estereótipos tem que ser desfeitos no Brasil, para que se tenha uma sociedade mais solidária, mais democrática. É preciso desfazer essa imensa cultura do desprezo.
No livro a senhora diz que essas mulheres veem o benefício como um favor do governo.
Sim, de 70% a 80% ainda veem o Bolsa Família como um favor. Encontramos poucas mulheres que achavam que é um direito. Isso se explica porque temos uma jovem democracia. A cultura dos direitos chegou muito tarde ao Brasil. Imagino que daqui para a frente a ideia de que elas têm direito vai ser mais reforçada. Para isso precisamos, porém, de políticas públicas específicas. Seriam um segundo, um terceiro passo… Os desafios a partir de agora são muito grandes.
Qual é a sua avaliação geral do programa?
Acho que o Bolsa Família foi uma das coisas mais importantes que aconteceram no Brasil nos últimos anos. Tornou visíveis cerca de 50 milhões de pessoas, tornou-os mais cidadãos. Essa talvez seja a maior conquista.
Entre as mulheres que ouviu, alguma foi mais marcante para a senhora?
Uma das mais marcantes foi uma jovem no sertão do Piauí. Ela me disse: “Essa foi a primeira vez que a minha pessoa foi enxergada”. Tinha uma outra, do Vale do Jequitinhonha, que morava num casebre, sozinha com três filhos. Quando começou a contar a história dela, perguntei qual era a sua idade, porque parecia que já tinha vivido muita coisa. Ela respondeu: “29 anos”. E eu: “Mas só 29?” Ela: “Mas, dona, a minha vida é comprida, muito comprida.” Percebi que falar que “a minha vida é muito comprida” é quase sinônimo de “é muito sofrida”.

    O existencialismo de Heidegger e Jean-Paul Sartre

    Heidegger

    O ponto de partida do pensamento deHeidegger, principal representante alemão da filosofia existencial, é o problema do sentido do ser. Heidegger aborda a questão tomando como exemplo o ser humano, que se caracteriza precisamente por se interrogar a esse respeito. O homem está especialmente mediado por seu passado: o ser do homem é um "ser que caminha para a morte" e sua relação com o mundo concretiza-se a partir dos conceitos de preocupação, angústia, conhecimento e complexo de culpa. O homem deve tentar "saltar", fugindo de sua condição cotidiana para atingir seu verdadeiro "eu".
    Martin Heidegger, Um dos teóricos mais importantes do existencialismo do século XX.
    Ainda assim, até ao final da década de trinta, a leitura da filosofia de Heidegger estrutura-se sobre conceitos como Dasein (o ser-aí ou o ser no mundo), morte, angústia ou decisão. Como entroncamento central de toda a sua fenomenologia encontra-se o conceito de ser-a-cada-momento ou de cada vez.

    Jean-Paul Sartre

    Filósofo, escritor e crítico francês, conhecido representante do existencialismo. Acreditava que os intelectuais têm de desempenhar um papel ativo na sociedade. Era um artista militante, e apoiou causas políticas de esquerda com a sua vida e a sua obra.
    Jean-Paul Sartre
    Sua filosofia dizia que no caso humano (e só no caso humano) a existência precede a essência, pois o homem primeiro existe depois se define, enquanto todas as outras coisas são o que são, sem se definir, e por isso sem ter uma "essência" posterior à existência.
    • O Em si - um ser Em si não tem potencialidades nem consciência de si ou do mundo. Ele apenas é. Uma caneta, por exemplo, é um objeto criado para suprir uma necessidade: a escrita.
    • O Para-si - A consciência humana é um tipo diferente de ser, por possuir conhecimento a seu próprio respeito e a respeito do mundo. É uma forma diferente de ser, chamada Para-si. É o Para-si que faz as relações temporais e funcionais entre os seres Em si, e ao fazer isso, constrói um sentido para o mundo em que vive.

    quinta-feira, 6 de junho de 2013

    "Quanto mais se encarcera, mais se fortalece o PCC"

    O Primeiro Comando da Capital extrapolou as fronteiras. Vinte anos depois de seu nascimento, a facção passa por um processo de nacionalização e ganha ramificações em estados como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Sergipe e Pernambuco. Ao mesmo tempo, o grupo hoje se mostra como força hegemônica em sua base de origem, São Paulo – o que, por uma lógica cruel, explica em parte a queda dos homicídios nas áreas de seus domínios.
    Com controle sobre 90% do total de 200 mil presos e o monopólio do mercado de drogas, a facção passou a mediar e regular disputas do mundo do crime, rompendo ciclos de vingança, avalia a socióloga Camila Nunes Dias, autora de PCC – Hegemonia nas Prisões e Monopólio da Violência (Editora Saraiva), que tem lançamento nesta quarta-feira 5. Segundo ela, a facção é atualmente um “importante ator político”, uma vez que detém poder e capacidade para desestabilizar a política de segurança pública do Estado.
    Para o livro, que nasceu de sua tese de doutorado, a pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência da USP e professora da Universidade Federal do ABC utilizou documentos oficiais, entrevistas com autoridades da área de segurança e material coletado de conversas privadas com 32 presos para contar a história da facção. Uma trajetória, ela explica a CartaCapital, fruto direto de um “círculo vicioso perverso” que tem a política de encarceramento em massa como protagonista: "Quanto mais se encarcera, mais se fortalece o PCC."
    Leia os principais trechos da entrevista:
    CartaCapital – Como atua o PCC hoje e qual é sua extensão dentro e fora das prisões?
    Camila Nunes Dias –
     De forma geral, hoje o PCC representa uma hegemonia no sistema prisional do estado de São Paulo, não apenas no sistema prisional, mas em todo mundo do crime. No estado, cerca de 90% das prisões são controladas pelo PCC. Fora de São Paulo, vejo que, de uns cinco anos para cá, o PCC está em um processo de nacionalização e tem presença significativa em estados como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Sergipe e Pernambuco. Nesses e em outros lugares, no entanto, seu peso ou entrada dependerá da articulação dos grupos criminosos locais. No Rio de Janeiro, até onde sei, o PCC não entra porque lá existem outros grupos, com quem se estabelecem acordos até. Já em Santa Catarina, por exemplo, o PCC tenta alguns acordos em que fornece a droga a ser comercializada. A forma de inserção, portanto, é variada em cada estado e depende muito da estrutura local.
    CC – Qual o papel que o PCC tem hoje na ‘segurança’?
    CND – No caso de São Paulo, tem um papel importante uma vez que controla o monopólio de drogas e 90% dos 200 mil presos do estado hoje, sem dúvida, fonte de muito poder. Se lembrarmos as crises de segurança pública de 2001, 2006 e 2012, vemos que o PCC estava à frente de todas. Trata-se, portanto, de um ator político extremamente importante, no sentido de que tem o poder e a capacidade de desestabilizar a política de segurança do Estado.
    CC – Qual a relação entre o PCC e a queda de homicídios, dentro e fora do sistema prisional?
    CDN – 
    Vemos uma queda vertiginosa da taxa de homicídio a partir dos anos 2000. Esse movimento começa em 2001 e se acentua a partir de 2005, período que corresponde ao momento de expansão do PCC para além do sistema prisional, estabelecendo-se nos bairros de periferia e construindo uma hegemonia fora da prisão. Penso que uma queda de 80% na taxa de homicídio não se explica só por fatores como expansão do sistema prisional, aumento da presença de ONG na periferia. No momento em que o PCC passa a mediar e regular disputas do mundo do crime, especialmente do mercado de drogas, o processo cíclico de vingança e violência anárquico de antes passa para a capacidade de controle do PCC. Se antes se tinha um mercado de drogas extremamente fragmentado e pulverizado, ocupado por grupos que entravam em conflito por território e venda, quando o PCC passa a controlar esse mercado, essas disputas deixam de existir. E, se elas ocorrem, o PCC se mostra essa instância de mediação, que acabou rompendo ciclos de vingança.
    CC – E de que maneira o grupo acaba se fortalecendo?
    CDN – Por ser hegemônico e ter poder consolidado, consegue garantir a manutenção da ordem social no sistema prisional. Falo em ordem na visão do Estado, com ausência de rebeliões, motins, e não de melhoria das condições das prisões, que são deploráveis. A manutenção da ordem é realmente conseguir segurar para não haver rebeliões diante das superlotações. Por conta dessa hegemonia do PCC que consegue manter essa ordem não ouvimos falar de rebelião recentemente.
    CC – Como são as etapas desse processo de fortalecimento?
    CDN – Há três fases. A primeira, de conquista de território, vai de sua criação dentro do anexo da Casa de Custódia de Taubaté (conhecido como Piranhão) em 1993 até 1995, quando esses primeiros integrantes do PCC são transferidos e começam a impor uma forma de domínio. Foi uma fase marcada por muita violência, uma vez que nem toda população carcerária aceitava. Houve muitas rebeliões, assassinatos de presos e instabilidade do sistema prisional paulista. Em 2001, quando o PCC faz a primeira megarrebelião em 29 unidades prisionais, passa a ser publicizado. Trata-se da segunda fase de expansão e constituição do PCC como ator politico, já que o Estado é obrigado a reconhecer sua existência e tenta uma série de ações para contê-lo, como o Regime Disciplinar Diferenciado [que prevê 23 horas em confinamento solitário], que vejo como uma fábrica de monstros. Em 2006, nos eventos de maio, o PCC explicita então a consolidação do seu poder dentro e fora das prisões. Dentro das prisões, foram 74 unidades que se rebelaram simultaneamente, enquanto do lado de fora lançaram mão de ataques a bancos, polícia etc. Acredito que os ataques de 2006 foram a gota d’água de uma crise desenhada desde 2005, marcada pela relação dos criminosos com a policia, aumento de casos de extorsão e que teve seu estopim na transferência de alguns membros para Presidente Venceslau. Depois temos um período marcado por certa estabilidade até os ataques de 2012, que foram bem pontuais e com um alvo específico: policiais militares. Foi uma reação às execuções que vinham sendo feitas pela polícia.
    CC – Além da manutenção da “ordem”, dentro dos presídios como funciona o trabalho do PCC?
    CDN – Não há acordos explícitos com os agentes, mas em todas as unidades do PCC há grupos responsáveis pela dinâmica prisional, seja resolvendo conflitos entre presos ou entre presos e funcionários. Tudo depende muito de cada unidade, mas em algumas o próprio PCC é quem distribui os medicamentos e produtos de higiene recebidos. Além disso, o comércio de drogas, cigarros e bebidas também é controlado pelo grupo.
    CC – Existe ligação do PCC com grupos de outros países?
    CDN – Acho que o PCC tem uma relação forte com produtores e intermediários do Paraguai, de onde vem maconha, e também com o Peru, que manda cocaína para o Brasil. Também já li que membros do PCC tiveram contato com integrantes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), mas não se mantêm relação.
    CC – O avanço e consolidação do PCC é fruto direto da política de encarceramento em massa?
    CDN – Não tenho dúvida disso. Eu diria, até mesmo, que um dos principais aliados do PCC é esse processo de encarceramento em massa. Quanto mais se encarcera, mais se fortalece o PCC.  Paralelamente, fortalece-se a própria ideologia de que é importante defender o PCC para combater o Estado como inimigo. Então, quanto piores forem as condições das prisões, mais força ganha esse discurso também. Assim como quanto maior a violência policial, maior a contribuição para reforçar essa ideologia. Hoje vivemos um círculo vicioso perverso: o Estado encarcera mais e acaba reforçando o poder do PCC. As condições dos presídios são péssimas, os presos acabam saindo piores do que entraram, cometem mais crimes e voltam para as prisões.

    segunda-feira, 3 de junho de 2013

    Breve entrevista com o sociólogo Manuel Castells pela Folha SP

    Ação em rede social não basta para mobilizar as pessoas, diz sociólogo

    ROBERTO DIAS
    SECRETÁRIO-ASSISTENTE DE REDAÇÃO

    O franquismo dominava a cena espanhola quando um estudante de 18 anos decidiu entrar nos cinemas de Barcelona para alterar seu enredo.
    Escolheu salas na periferia, aproveitou a escuridão para deixar folhetos de protesto nas cadeiras e terminou a noite com uma sensação: "As palavras que eu havia transmitido poderiam mudar algumas mentes que acabariam por mudar o mundo".
    O objetivo principal não foi alcançado, e a ditadura espanhola perdurou até os anos 1970. Décadas mais tarde, ao descrever seu ato, Manuel Castells concluiu que ignorava coisas importantes da comunicação. "Não sabia que a mensagem só é eficaz se o destinatário estiver disposto a recebê-la e se for possível identificar o mensageiro e ele for de confiança", escreveu.
    O jovem revolucionário acabou exilado em Paris, onde deu início a uma trajetória que fez dele um dos mais destacados sociólogos do mundo. Famoso por estudar sobre poder das redes e o impacto social da informação, Castells diz, em entrevista por e-mail, que o Facebook sozinho não é capaz de mudar a história.
    Marcelo Justo - 17.jun.2010/Folhapress
    O sociólogo espanhol Manuel Castells
    O sociólogo espanhol Manuel Castells
    *
    Folha - Os jovens espanhóis que saíram várias vezes às ruas e acamparam em lugares como a praça Catalunya [na região central de Barcelona] continuam sememprego, e a coisa piorou desde então. O movimento fracassou?
    Manuel Castells - É a única esperança que sobra em um país com 27% de desemprego, 53% de desemprego juvenil e com apenas 26% dos cidadãos neste momento apoiando um dos dois grandes partidos.
    Hoje, 70% da população concorda com o movimento, porém não existe, por ora, uma expressão política institucional dessa crítica frontal a todo o sistema. Mas a mudança já aconteceu na cabeça das pessoas. E isso é o essencial na mudança social.
    O sr. diz que esses novos movimentos, nascidos na internet, estão recriando a democracia. Mas no Brasil não é incomum que protestos organizados por dezenas de milhares no Facebook não cheguem a reunir centenas de pessoas na rua. Esses movimentos têm mesmo toda essa capacidade?
    Isso depende das condições de cada país. Na Espanha, chegaram a ser centenas de milhares. Nos Estados Unidos, aconteceram ocupações urbanas em mil cidades. Na Itália, saiu daí o movimento Cinco Estrelas, o partido mais votado [nas eleições parlamentares deste ano]. No Chile, os estudantes mudaram o panorama político do país.
    Mas é claro que não basta um manifesto no Facebook para mobilizar milhares de pessoas. Isso depende do nível de descontentamento popular e da capacidade de mobilização de imagens e palavras. A internet é uma condição necessária mas não suficiente para que existam movimentos sociais.
    Se o que aconteceu na Itália com Beppe Grillo [líder do Cinco Estrelas] pode ser considerado um desses movimentos, pergunto: para que ele serviu então?[Embora fosse o partido mais votado, recusou-se a negociar e acabou ficando fora do novo governo.]
    O Cinco Estrelas se situa entre o movimento e a política, mas surge de um clamor, que existe na sociedade italiana, por uma verdadeira democracia. O que aconteceu é que seu êxito bloqueou um sistema corrupto a serviço de uma classe política que na Itália se chama "A Casta".
    E o Partido Democrático, em vez de desmentir as suspeitas e mudar suas práticas, faz um governo de aliança com [Silvio] Berlusconi, depois de fazer uma campanha para acabar com ele.
    É provável que o Partido Democrático se fracione e que aconteça uma recomposição do sistema político. O Cinco Estrelas não é um partido do governo, mas é uma força que faz o sistema se regenerar.
    Como o sr. vê a evolução da crise de representação dos Parlamentos, e que papel a imprensa tem nisso?
    Todos os dados mundiais, exceto os da Escandinávia, mostram o desprestígio total dos políticos, partidos e parlamentos. Se os cidadãos pudessem, mandariam todos embora, mas o sistema bloqueou as saídas.
    A imprensa costuma estar mediada pelos empresários e por suas alianças políticas. Felizmente, a liberdade de comunicação tem dois aliados fundamentais: o profissionalismo dos jornalistas e a rede.
    Marina Silva propõe a criação de um novo partido político, que tem o nome simbólico de Rede. É possível para um político que esteve nos partidos tradicionais reinventar-se nesses novos movimentos?
    Em geral, eu diria que não. Mas, conhecendo Marina Silva, se alguém tem a possibilidade de fazer isso, seria ela. Terá, entretanto, de enfrentar todo o sistema, porque um ponto sob o qual todos os partidos estão de acordo é manter o monopólio conjunto do poder.
    Os chineses aprenderam a controlar a rede? Seu firewall [muro de censura na rede] já é reconhecido como um exemplo de sucesso tecnológico, como disse a revista "The Economist".
    Não. Como dizem meus amigos hackers chineses, a Grande Barreira é um tigre de papel. O controle se faz com robôs que utilizam palavras-chave, como Tiananmen [o nome local para a Praça da Paz Celestial], basta não usar essas palavras.
    Mesmo que tenham introduzido novas medidas tecnológicas, não há como controlar os milhões de blogs individuais, que são onde se gera o debate social ""não na página da "Economist" na web.
    O que será do Facebook em cinco anos? Se o Facebook quer ser o "melhor jornal personalizado do mundo", como disse Mark Zuckerberg, como ficará sua relação com os meios tradicionais?
    Nunca faço previsões. Mas o Facebook tem sucesso porque é personalizado. Qualquer tentativa de utilizar as pessoas em vez de ser utilizado por elas levará a uma competição com centenas de outros, como aquela em que o Facebook liquidou o MySpace. Quem não tem boa perspectiva são os meios de comunicação tradicionais, a menos que se reconvertam no modelo de "jornalismo em rede" que tenho analisado recentemente.
    Aos poucos se está mudando o consumo de informação na rede para um modelo em que nem tudo o que está nela é gratuito. Como vê o futuro do jornalismo nesse sentido?
    É um grave erro cobrar por informação na rede, a menos que a informação seja profissionalmente relevante, como no caso do [jornal americano de economia] "Wall Street Journal". Com as alternativas que existem na rede, o que acontece é que simplesmente se desvia o fluxo de leitores para outros canais informativos e de debate.
    Há 14 anos, o sr. esteve no programa "Roda Viva", da TV Cultura, e disse que São Paulo tinha uma terrível gestão urbana, comparando-a à de Barcelona. Por que as metrópoles brasileiras não conseguem dar o passo que deu Barcelona, mesmo numa transformação tão grande como a de agora para o Mundial?
    Barcelona tem muito mais problemas atualmente, mas, ainda assim, é uma das melhores cidades do mundo, e a qualidade da administração municipal é um fator importante para esse resultado.
    As metrópoles brasileiras têm muito mais dificuldades objetivas, por seus níveis de pobreza, de violência e da força dos interesses especulativos no solo urbano e nas infraestruturas de transporte e de serviços.
    Se houvesse um pacto entre partidos e instituições para deixar de lado diferenças partidárias e fazer um projeto de gestão urbana, estou seguro de que seria tecnicamente possível. Hoje, existem recursos e capacidade profissional no Brasil para melhorar a gestão urbana. É preciso vontade política e sentido de serviço ao cidadão.

    segunda-feira, 29 de abril de 2013

    quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

    As dez estratégias de manipulação da mídia


    O linguista e filósofo norte americano Noam Chomsky elaborou a lista das “10 estratégias de manipulação” através dos meios de comunicação. Ele afirma que nas décadas de 80 e 90 elaborou-se toda uma estratégia de manipulação dos povos através dos meios de comunicação, facilitando assim o controle da opinião pública para as estratégias e práticas adotadas pelos modelos neoliberais, que acabaram por conduzir os rumos sociais a partir dos interesses econômicos

    1- A estratégia da distração – o elemento primordial do controle social.
    Consiste em tirar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças ditadas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do “dilúvio” de distrações e de informações insignificantes. Essa estratégia é também indispensável para que o público não se sinta interessado por conhecimentos essenciais na área da ciência, da economia, da psicologia, da neurolinguística, e da cibernética.
    “Manter o público distraído, longe dos verdadeiros problemas sociais, seduzidos por temas sem importância real; manter o público ocupado sem nenhum tempo para pensar, de volta ao ‘estábulo’ com o animais.”


    2- Criar problemas e depois oferecer soluções.
     Esse método também é chamado “problema – reação -solução”. Cria-se um problema, uma situação prevista para causar determinada reação no público, para que ele mesmo seja o mandante das medidas que sede seja fazer aceitar. Por exemplo, deixar que se desenvolva ou que se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, afim de que o público seja o requerente de leis de segurança e de políticas que causem danos à liberdade. Ou também criar uma crise econômica para que o retrocesso dos direitos sociais e a destruição dos serviços públicos sejam aceitos como um mal necessário.





    3- A estratégia da gradação.
    Para que se aceite uma medida inaceitável, basta aplicá-la gradualmente, a conta-gotas, por anos consecutivos. Dessa maneira, condições sócio-econômicas radicalmente novas(neoliberalismo) foram impostas durante as décadas de 80 e 90.
    Mudanças como privatizações, precariedade, flexibilidade, desemprego em massa, salários baixos... provocariam uma revolução se fossem aplicados de uma só vez.

    4- A estratégia de atrasar a realização de algo.
    Outra maneira de impor uma decisão impopular é a de apresentá-la como “dolorosa e necessária”, obtendo a aceitação pública, em determinado momento, para uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro que um imediato. Primeiro porque o esforço não é empregado imediatamente. Depois porque o público, a massa tende a esperar ingenuamente que “as coisas vão melhorar amanhã” e que o sacrifício exigido será evitado. Dessa forma, acostuma-se com a ideia da mudança e ela é aceita, com resignação, quando chegar o momento.




    5- Dirigir-se ao público como crianças (como criaturas de pouca idade).
    A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso, argumentos, personagem se entonação particularmente infantis, muitas vezes perto da debilidade, como se o espectador fosse uma criança ou um deficiente mental. Quanto mais se tenta enganar o espectador, mais se tende a adotar um tom infantil. Por quê? Se alguém se dirige a uma pessoa como se ela tivesse 12 anos ou menos, pela sugestão, ela terá, provavelmente, uma resposta ou uma reação também desprovida de um sentido crítico, como uma criança.

    6- Utilizar mais o aspecto emocional que a reflexão.
    Essa é uma técnica clássica para causar um curto-circuito na análise racional e no sentido crítico dos indivíduos. Por outro lado, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou injetar ideias, desejos, medos, compulsões ou induzir comportamentos.









    7- Manter o público ignorante e medíocre.
    Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controlo e escravidão. “A qualidade da educação dada às classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre possível para que ela se torne bastante ignorante e seja impossível alcançar as classes sociais superiores”.


    8- Estimular o público a ser complacente com a mediocridade.

    Levar o público a crer que é moda o fato de ser estúpido, vulgar e inculto.












    9- Reforçar a autoculpabilidade.
    Fazer o indivíduo crer que é somente ele o culpado pela sua desgraça porque não é inteligente, é incapaz e não se esforça. Assim ao invés de rebelar-se contra o sistema econômico, a pessoa se auto desvaloriza e se culpa, o que gera um estado depressivo, cujo efeito é a inibição de sua ação. E sem ação não há revolução.

    10- Conhecer o indivíduo melhor que ele mesmo.

    Nos últimos 50 anos, o avanço acelerado das ciências gerou uma crescente brecha entre os conhecimentos do público e aqueles utilizados pelas elites dominantes. Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o “sistema” desfruta de um conhecimento físico e psicológico avançado do ser humano e consegue, assim, conhecer  o indivíduo com um melhor do que ele mesmo. Isso significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre as pessoas, maior do que elas sobre si mesmas.





    Tradução do Espanhol: Professora Iara Valle bastos
    Retirado de: http://www.forumseculo21.com.br/

    quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

    Eis o perigo de mexer com pessoas inteligentes....


    Achei este texto qdo estava sapeando o Facebook. Difícil encontrar coisas bacanas, mas esse me surpreendeu... Da-le Danilão...Eis o perigo de mexer com pessoas inteligentes....

 
 
Eis o perigo de mexer com pessoas inteligentes....
O humorista Danilo Gentili postou a seguinte piada no seu twitter:
"King Kong, um macaco que, depois que vai para a cidade e fica famoso, pega uma loira. Quem ele acha que é? Jogador de futebol?"
A ONG Afrobras se posicionou contra: "Nos próximos dias devemos fazer uma carta de repúdio. Estamos avaliando ainda uma representação criminal", diz José Vicente, presidente da ONG. "Isso foi indevido, inoportuno, de mau gosto e desrespeitoso. Desrespeitou todos os negros brasileiros e também a democracia. Democracia é você agir com responsabilidade" , avalia Vicente.
Alguns minutos após escrever seu primeiro "twitter" sobre King Kong, Gentili tentou se justificar no microblog:
"Alguém pode me dar uma explicação razoável por que posso chamar gay de veado, gordo de baleia, branco de lagartixa, mas nunca um negro de macaco?" (GENIAL) "Na piada do King Kong, não disse a cor do jogador. Disse que a loira saiu com o cara porque é famoso. A cabeça de vocês é que têm preconceito."
Mas, calma! Essa não foi a tal resposta genial que está no título, e sim ESTA:
"Se você me disser que é da raça negra, preciso dizer que você também é racista, pois, assim como os criadores de cachorros, acredita que somos separados por raças. E se acredita nisso vai ter que confessar que uma raça é melhor ou pior que a outra, pois, se todas as raças são iguais, então a divisão por raça é estúpida e desnecessária. Pra que perder tempo separando algo se no fundo dá tudo no mesmo?
Quem propagou a ideia que "negro" é uma raça foram os escravagistas. Eles usaram isso como desculpa para vender os pretos como escravos: "Podemos tratá-los como animais, afinal eles são de uma outra raça que não é a nossa. Eles são da raça negra".
Então quando vejo um cara dizendo que tem orgulho de ser da raça negra, eu juro que nem me passa pela cabeça chamá-lo de macaco, MAS SIM DE BURRO.
Falando em burro, cresci ouvindo que eu sou uma girafa. E também cresci chamando um dos meus melhores amigos de elefante. Já ouvi muita gente chamar loira caucasiana de burra, gay de v***** e ruivo de salsicha, que nada mais é do que ser chamado de restos de porco e boi misturados.
Mas se alguém chama um preto de macaco é crucificado. E isso pra mim não faz sentido. Qual o preconceito com o macaco? Imagina no zoológico como o macaco não deve se sentir triste quando ouve os outros animais comentando:
- O macaco é o pior de todos. Quando um humano se xinga de burro ou elefante dão risada. Mas quando xingam de macaco vão presos. Ser macaco é uma coisa terrível. Graças a Deus não somos macacos.
Prefiro ser chamado de macaco a ser chamado de girafa. Peça a um cientista que faça um teste de Q.I. com uma girafa e com um macaco. Veja quem tira a maior nota.
Quando queremos muito ofender e atacar alguém, por motivos desconhecidos, não xingamos diretamente a pessoa, e sim a mãe dela. Posso afirmar aqui então que Darwin foi o maior racista da história por dizer que eu vim do macaco?
Mas o que quero dizer é que na verdade não sei qual o problema em chamar um preto de preto. Esse é o nome da cor não é? Eu sou um ser humano da cor branca. O japonês da cor amarela. O índio da cor vermelha. O africano da cor preta. Se querem igualdade deveriam assumir o termo "preto" pois esse é o nome da cor. Não fica destoante isso: "Branco, Amarelo, Vermelho, Negro"?. O Darth Vader pra mim é negro. Mas o Bill Cosby, Richard Pryor e Eddie Murphy que inspiram meu trabalho, não. Mas se gostam tanto assim do termo negro, ok, eu uso, não vejo problemas. No fim das contas, é só uma palavra. E embora o dicionário seja um dos livros mais vendidos do mundo, penso que palavras não definem muitas coisas e sim atitudes.
Digo isso porque a patrulha do politicamente correto é tão imbecil e superficial que tenho absoluta certeza que serei censurado se um dia escutarem eu dizer: "E aí seu PRETO, senta aqui e toma uma comigo!". Porém, se eu usar o tom correto e a postura certa ao dizer "Desculpe meu querido, mas já que é um afrodescendente, é melhor evitar sentar aqui. Mas eu arrumo uma outra mesa muito mais bonita pra você!" Sei que receberei elogios dessas mesmas pessoas; afinal eu usei os termos politicamente corretos e não a palavra "preto" ou "macaco", que são palavras tão horríveis.
Os politicamente corretos acham que são como o Superman, o cara dotado de dons superiores, que vai defender os fracos, oprimidos e impotentes. E acredite: isso é racismo, pois transmite a ideia de superioridade que essas pessoas sentem de si em relação aos seus "defendidos"
Agora peço que não sejam racistas comigo, por favor. Não é só porque eu sou branco que eu escravizei um preto. Eu juro que nunca fiz nada parecido com isso, nem mesmo em pensamento. Não tenham esse preconceito comigo. Na verdade, SOU ÍTALO-DESCENDENTE. ITALIANOS NÃO ESCRAVIZARAM AFRICANOS NO BRASIL. VIERAM PRA CÁ E, ASSIM COMO OS PRETOS, TRABALHARAM NA LAVOURA. A DIFERENÇA É QUE ESCRAVA ISAURA FEZ MAIS SUCESSO QUE TERRA NOSTRA.
Ok. O que acabei de dizer foi uma piada de mau gosto porque eu não disse nela como os pretos sofreram mais que os italianos. Ok. Eu sei que os negros sofreram mais que qualquer raça no Brasil. Foram chicoteados. Torturados. Foi algo tão desumano que só um ser humano seria capaz de fazer igual. Brancos caçaram negros como animais. Mas também os compraram de outros negros. Sim. Ser dono de escravo nunca foi privilégio caucasiano, e sim da sociedade dominante. Na África, uma tribo vencedora escravizava a outra e as vendia para os brancos sujos.
Lembra que eu disse que era ítalo-descendente? Então. Os italianos podem nunca ter escravizados os pretos, mas os romanos escravizaram os judeus. E eles já se vingaram de mim com juros e correção monetária, pois já fui escravo durante anos de um carnê das Casas Bahia.
Se é engraçado piada de gay e gordo, por que não é a de preto? Porque foram escravos no passado hoje são café com leite no mundo do humor? É isso? Eu posso fazer a piada com gay só porque seus ancestrais nunca foram escravos? Pense bem, talvez o gay na infância também tenha sofrido abusos de alguém mais velho com o chicote.
Se você acha que vai impor respeito me obrigando a usar o termo "negro" ou "afrodescendente" , tudo bem, eu posso fazer isso só pra agradar. Na minha cabeça, você será apenas preto e eu, branco, da mesma raça - a raça humana. E você nunca me verá por aí com uma camiseta escrita "100% humano", pois não tenho orgulho nenhum de ser dessa raça que discute coisas idiotas de uma forma superficial e discrimina o próprio irmão."

    O humorista Danilo Gentili postou a seguinte piada no seu twitter:
    "King Kong, um macaco que, depois que vai para a cidade e fica famoso, pega uma loira. Quem ele acha que é? Jogador de futebol?"
    A ONG Afrobras se posicionou contra: "Nos próximos dias devemos fazer uma carta de repúdio. Estamos avaliando ainda uma representação criminal", diz José Vicente, presidente da ONG. "Isso foi indevido, inoportuno, de mau gosto e desrespeitoso. Desrespeitou todos os negros brasileiros e também a democracia. Democracia é você agir com responsabilidade" , avalia Vicente.
    Alguns minutos após escrever seu primeiro "twitter" sobre King Kong, Gentili tentou se justificar no microblog:
    "Alguém pode me dar uma explicação razoável por que posso chamar gay de veado, gordo de baleia, branco de lagartixa, mas nunca um negro de macaco?" (GENIAL) "Na piada do King Kong, não disse a cor do jogador. Disse que a loira saiu com o cara porque é famoso. A cabeça de vocês é que têm preconceito."
    Mas, calma! Essa não foi a tal resposta genial que está no título, e sim ESTA:
    "Se você me disser que é da raça negra, preciso dizer que você também é racista, pois, assim como os criadores de cachorros, acredita que somos separados por raças. E se acredita nisso vai ter que confessar que uma raça é melhor ou pior que a outra, pois, se todas as raças são iguais, então a divisão por raça é estúpida e desnecessária. Pra que perder tempo separando algo se no fundo dá tudo no mesmo?
    Quem propagou a ideia que "negro" é uma raça foram os escravagistas. Eles usaram isso como desculpa para vender os pretos como escravos: "Podemos tratá-los como animais, afinal eles são de uma outra raça que não é a nossa. Eles são da raça negra".
    Então quando vejo um cara dizendo que tem orgulho de ser da raça negra, eu juro que nem me passa pela cabeça chamá-lo de macaco, MAS SIM DE BURRO.
    Falando em burro, cresci ouvindo que eu sou uma girafa. E também cresci chamando um dos meus melhores amigos de elefante. Já ouvi muita gente chamar loira caucasiana de burra, gay de v***** e ruivo de salsicha, que nada mais é do que ser chamado de restos de porco e boi misturados.
    Mas se alguém chama um preto de macaco é crucificado. E isso pra mim não faz sentido. Qual o preconceito com o macaco? Imagina no zoológico como o macaco não deve se sentir triste quando ouve os outros animais comentando:
    - O macaco é o pior de todos. Quando um humano se xinga de burro ou elefante dão risada. Mas quando xingam de macaco vão presos. Ser macaco é uma coisa terrível. Graças a Deus não somos macacos.
    Prefiro ser chamado de macaco a ser chamado de girafa. Peça a um cientista que faça um teste de Q.I. com uma girafa e com um macaco. Veja quem tira a maior nota.
    Quando queremos muito ofender e atacar alguém, por motivos desconhecidos, não xingamos diretamente a pessoa, e sim a mãe dela. Posso afirmar aqui então que Darwin foi o maior racista da história por dizer que eu vim do macaco?
    Mas o que quero dizer é que na verdade não sei qual o problema em chamar um preto de preto. Esse é o nome da cor não é? Eu sou um ser humano da cor branca. O japonês da cor amarela. O índio da cor vermelha. O africano da cor preta. Se querem igualdade deveriam assumir o termo "preto" pois esse é o nome da cor. Não fica destoante isso: "Branco, Amarelo, Vermelho, Negro"?. O Darth Vader pra mim é negro. Mas o Bill Cosby, Richard Pryor e Eddie Murphy que inspiram meu trabalho, não. Mas se gostam tanto assim do termo negro, ok, eu uso, não vejo problemas. No fim das contas, é só uma palavra. E embora o dicionário seja um dos livros mais vendidos do mundo, penso que palavras não definem muitas coisas e sim atitudes.
    Digo isso porque a patrulha do politicamente correto é tão imbecil e superficial que tenho absoluta certeza que serei censurado se um dia escutarem eu dizer: "E aí seu PRETO, senta aqui e toma uma comigo!". Porém, se eu usar o tom correto e a postura certa ao dizer "Desculpe meu querido, mas já que é um afrodescendente, é melhor evitar sentar aqui. Mas eu arrumo uma outra mesa muito mais bonita pra você!" Sei que receberei elogios dessas mesmas pessoas; afinal eu usei os termos politicamente corretos e não a palavra "preto" ou "macaco", que são palavras tão horríveis.
    Os politicamente corretos acham que são como o Superman, o cara dotado de dons superiores, que vai defender os fracos, oprimidos e impotentes. E acredite: isso é racismo, pois transmite a ideia de superioridade que essas pessoas sentem de si em relação aos seus "defendidos"
    Agora peço que não sejam racistas comigo, por favor. Não é só porque eu sou branco que eu escravizei um preto. Eu juro que nunca fiz nada parecido com isso, nem mesmo em pensamento. Não tenham esse preconceito comigo. Na verdade, SOU ÍTALO-DESCENDENTE. ITALIANOS NÃO ESCRAVIZARAM AFRICANOS NO BRASIL. VIERAM PRA CÁ E, ASSIM COMO OS PRETOS, TRABALHARAM NA LAVOURA. A DIFERENÇA É QUE ESCRAVA ISAURA FEZ MAIS SUCESSO QUE TERRA NOSTRA.
    Ok. O que acabei de dizer foi uma piada de mau gosto porque eu não disse nela como os pretos sofreram mais que os italianos. Ok. Eu sei que os negros sofreram mais que qualquer raça no Brasil. Foram chicoteados. Torturados. Foi algo tão desumano que só um ser humano seria capaz de fazer igual. Brancos caçaram negros como animais. Mas também os compraram de outros negros. Sim. Ser dono de escravo nunca foi privilégio caucasiano, e sim da sociedade dominante. Na África, uma tribo vencedora escravizava a outra e as vendia para os brancos sujos.
    Lembra que eu disse que era ítalo-descendente? Então. Os italianos podem nunca ter escravizados os pretos, mas os romanos escravizaram os judeus. E eles já se vingaram de mim com juros e correção monetária, pois já fui escravo durante anos de um carnê das Casas Bahia.
    Se é engraçado piada de gay e gordo, por que não é a de preto? Porque foram escravos no passado hoje são café com leite no mundo do humor? É isso? Eu posso fazer a piada com gay só porque seus ancestrais nunca foram escravos? Pense bem, talvez o gay na infância também tenha sofrido abusos de alguém mais velho com o chicote.
    Se você acha que vai impor respeito me obrigando a usar o termo "negro" ou "afrodescendente" , tudo bem, eu posso fazer isso só pra agradar. Na minha cabeça, você será apenas preto e eu, branco, da mesma raça - a raça humana. E você nunca me verá por aí com uma camiseta escrita "100% humano", pois não tenho orgulho nenhum de ser dessa raça que discute coisas idiotas de uma forma superficial e discrimina o próprio irmão."

    terça-feira, 8 de janeiro de 2013

    Filósofos questionam a supervalorização do amor romântico


    Achei muito bacana esta matéria por questionar o amor novelesco, sempre abordei esta temática e era tirada por "mal amada" pelos colegas. Mas concordo plenamente, que este amor idealizado não é real. Criamos expectativas no companheiro (a) e só nos frustramos. É bom este tipo de matéria ser veiculada em grandes jornais, para colocar em pauta este debate e tentar, de certa forma, diminuir estes índices de doenças ocasionadas pelos nossos sentimentos/emoções.
    Segue a matéria:

    O amor está longe de ser a solução para o fim do sofrimento humano. Pelo menos aquele amor romântico de filmes e novelas.
    Quem defende essa ideia é o filósofo Simon May, professor do King's College, em Londres, e autor de "Amor - Uma História", lançado aqui no fim do ano passado.
    Para ele, o sentimento está supervalorizado: ocupou o espaço deixado pela religião e se tornou o novo deus do Ocidente.
    "Somos todos fanáticos. Exigimos que nosso sentimento seja eterno e incondicional e camuflamos sua natureza condicional e efêmera. É a mais nova tentativa humana de roubar um poder divino", disse, em entrevista à Folha.

    Lambe-lambe que pede "Mais amor, por favor", no viaduto Antártica, em São Paulo


    De acordo com o filósofo, a religião do amor incondicional é reforçada pela cultura. Ele cita filmes em que um dos personagens não quer saber de namorar e só pensa na carreira. No final, ele sempre descobre que sem uma paixão sua vida não será completa.
    Tanta pressão em cima de um sentimento frágil e humano, para o autor, termina em frustração coletiva. "Nada humano é verdadeiramente incondicional, eterno e completamente bom. Essa é uma forma de amor que só Deus pode ter. Esse entendimento gera expectativas altas, que relacionamentos cotidianos não são capazes de suprir."
    O mesmo defende o filósofo alemão Richard David Precht, autor de "Amor - Um Sentimento Desordenado". "O papel de nos aceitar por inteiro, com todos os nossos defeitos e limitações, cabia a Deus. Hoje buscamos alguém que possa cumprir essa função e ainda dormir conosco. É realmente pedir demais", diz.
    ROMANTISMO
    No livro, Simon May traça um histórico das diferentes concepções de amor ao longo da história e atribui ao romantismo do século 19 a culpa pela supervalorização do sentimento.

    Segundo ele, desde então, enquanto a sociedade mudou, a idealização do sentimento continua como no passado. Inovações como a liberação sexual, a pílula e a luta pelos direitos dos gays só possibilitaram que mais pessoas passassem a perseguir o amor ideal ao incluir homossexuais e divorciados no jogo.
    A psicanalista Regina Navarro Lins também pesquisou a história do sentimento, mas chegou a uma conclusão diferente. "O amor romântico está com os dias contados. Domina filmes e novelas, mas está saindo de cena na vida real", afirma ela, que em 2012 publicou "O Livro do Amor", obra em dois volumes.
    Para a psicanalista, o futuro aponta para o "poliamor" e para formas menos convencionais que o casamento. "As pessoas estão mais individualistas, buscam sua própria satisfação. Isso irrita os conservadores, mas aumenta as chances de cada um ser feliz", diz.
    Navarro Lins, no entanto, concorda com Simon May ao considerar o amor romântico irreal. "Você conhece uma pessoa, atribui a ela características que ela não possui e passa a vida infernizando a criatura, querendo que ela seja como você imaginou", diz a psicanalista.
    A troca de exigências gera um "rancor matrimonial", uma sensação de que o parceiro nos enganou ao não cumprir nossas expectativas.
    Simon May não acredita que a solução seja dar menos importância ao sentimento, mas rever os conceitos. "Precisamos mudar nossas expectativas, não reduzi-las. É preciso abandonar a ideia de que amor implica em intimidade incondicional, benevolência e altruísmo. Para mim, amor é algo completamente condicional. Ele só existe enquanto a outra pessoa parece dar sentido à nossa existência."

    Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/1211142-filosofos-questionam-a-supervalorizacao-do-amor-romantico.shtml