domingo, 30 de dezembro de 2012

MINHA PRODUÇÃO ESTÁ UMA BOSTA
MINHAS EXPECTATIVAS, NO BURACO
MINHAS CHANCES, NA VALA
MEUS SONHOS, UM PESADELO
MEUS DESEJOS INALCANÇÁVEIS
MINHA VONTADE LIQUIDADA
MEUS AMIGOS AFASTADOS
MEUS AMORES, DISTANTES
ATÉ PARA LAMENTAR FALTA VONTADE.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Na visão da periferia, PCC reduziu crimes, diz canadense que estuda violência em São Paulo


Baixos salários, falta de investimento, de funcionário especializado e de reconhecimento do trabalho são os problemas apontados pelo pesquisador canadense Graham Denyer Willis para a crise na segurança pública que atinge o Estado de São Paulo.
Willis veio ao país em 1996 fazer um intercâmbio e desde então acompanha a questão da criminalidade.
Em 2005, ficou intrigado com o resultado do referendo sobre armas de fogo e resolveu pesquisar o motivo de a maioria dos brasileiros ser contra a proibição da venda mesmo com o alto índice de homicídio no pais.
Foi quando ele descobriu o PCC (Primeiro Comando da Capital) --facção criminosa que atua nos principais presídios do pais-- e aprofundou sua pesquisa, que deve virar um livro após a conclusão.
Para o especialista, a facção é responsável pela queda nos índices de criminalidade em algumas regiões da capital paulista. "Os moradores falaram que, quando o PCC chegou, [os criminosos] estabeleceram uma ordem forte do que pode ser feito e do que não pode ser feito dentro da comunidade", declarou Willis.
O canadense é candidato a pós-doutorado em estudos e planejamento urbano no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), pesquisador visitante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e pesquisador sênior do Instituto Igarapé.
Logo após os ataques do PCC de 2006, Willis passou cerca de quatro meses morando em uma das comunidades dominadas pela facção em São Paulo. O bairro não será divulgado por motivos de segurança, já que o pesquisador ainda não concluiu seu trabalho.
"Foi ficando perigoso passar muito tempo na comunidade, perguntando coisas, falando com as pessoas, e resolvi entender o outro lado. Como a polícia interagia com essas comunidades e como era o impacto do PCC no trabalho da polícia", afirmou Willis.
Neste ano, o canadense começou a acompanhar o trabalho dos policiais em uma delegacia de São Paulo, que ele também prefere não divulgar para não atrapalhar seu relacionamento com os policiais.
A pesquisa ganhou destaque após a publicação, no dia 1º dezembro, do artigo "O que está matando a polícia brasileira?" do jornal americano "The New York Times".
No texto, o especialista diz que o alto número de policiais militares assassinados este ano (quase cem) está relacionado aos salários baixos e a falta de apoio oferecida pelo Estado aos PMs.
Em entrevista ao UOL, Willis conta que ficou muito impressionado com as condições de trabalho da polícia paulistana e com a falta de confiança da população nos policiais.
UOL - O que você observou pesquisando o PCC?
Willis - O que foi interessante é que foi logo depois dos ataques do PCC em 2006, mas a pesquisa também foi feita na época em que o governo dizia que a queda de homicídios era devida ao trabalho da polícia. Foi uma queda grande, de 75%. Mas na visão da periferia não era nada disso. Até 2002, mais ou menos, quem estava morrendo era jovem entre 15 e 29 anos. Chegou um ponto, em 2003, 2004, que o PCC chegou de fato nas ruas e fez uma união entre os grupos menores armados que estavam na periferia.
Os moradores falaram que, quando o PCC chegou, [os criminosos] estabeleceram uma ordem forte do que pode ser feito e do que não pode ser feito dentro da comunidade E que se acontecesse alguma coisa tinham que falar com eles. Um sistema de lei e ordem bem diferente. São as regras que estão no estatuto. Já tem dois estatutos, um bem recente. Aí na comunidade não era só quem estava batizado, mas quem morava na comunidade que também não podia desobedecer as regras do PCC. E eles falam que antes era muito pior, [havia] briga entre policia e bandido, morria muito gente. Não podiam sair na rua à noite. Depois que chegou o PCC, estabeleceu essa ordem. Todo mundo sabe que se desobedecer vai ser julgado, sabe o que vai acontecer. Violar mulher, por exemplo, todo mundo sabe que é um crime muito grave e que o cara vai desaparecer ou vai morrer. Então, a taxa de homicídio nesses bairros caíram muito por causa disso. Na visão da periferia, nas comunidades onde o PCC controla, o PCC tem muito a ver com a queda dos homicídios, desde 2003, 2004. O Gabriel [de Santis] Feltran escreveu um livro ["Fronteiras de Tensão"] muito importante sobre isso.
Se você vir os dados de 1999, por exemplo, as comunidades que tinham mais problema com violência, são as que hoje estão dominadas pelo PCC, como Sapopemba, Jardim Angela, Cidade Tirandentes, Capão Redondo, Campo Limpo.  Depois do PCC, a taxa [de criminalidade] nessas comunidades caiu muito.
Quando você resolveu pesquisar a polícia?
A relação entre cidadão e a policia no Brasil sempre foi muito difícil porque tem a história muito profunda de que essa policia estava nas ruas durante a ditadura. E não tinha quase ninguém pesquisando a policia, para acompanhar, para saber qual é a realidade da rua, dos policiais que ganham um salário muito baixo, que moram na periferia. Eu conheci vários policiais que falavam que moravam em Sapopemba, em Campo Limpo, nesses lugares onde estão o PCC. Aí eu fiquei muito surpreso porque, então, o cara sabe quem manda na comunidade. E quando acontece alguma coisa nesses lugares, os moradores não avisam os policiais que moram lá, porque o PCC não vai gostar e vai ser resolvido com eles. Fiquei impressionado. Como esse policial faz, então, se ele tem que morar nessa comunidade, totalmente desmoralizado, ninguém quer saber quem ele é e, se souber, não vai gostar dele? Como ele faz o seu trabalho? Achei um problema muito grande e quis pesquisar melhor. Fui atrás de entender melhor.
Sobre falta de estrutura para o trabalho da polícia, você chegou a constatar alguma coisa?
O policial da rua, o investigador, o soldado ou o cabo têm uma realidade diferente da dos [policiais] mais altos, de quem manda. É muito difícil que os policiais que mandam, que fazem política, que estão mais ligados ao governador, saibam bem qual é a realidade da rua. Essas pessoas nunca moraram em uma favela, nunca viveram em uma condição de ganhar R$ 600, em que ele teve que trabalhar em mais três, quatro, bicos para poder pagar a escola da filha. Então fica difícil até porque o policial que está na rua nunca vai chegar ao ponto de ser chefe. (...) O que ainda é pior dentro da Polícia Militar. A instituição militar não tem espaço para a criatividade, para diálogo, não pode falar com seu superior, você é subordinado totalmente. As suas ideias não importam, são as ideias de quem mandam que são importantes. Só que quem manda não conhece bem a realidade das ruas.
O que mais você observou de dificuldade no trabalho dos policiais?
Salário é difícil, recurso é muito difícil. Por exemplo, tem muita gente falando sobre o trabalho de investigação hoje em dia, falta muito perito. Só em casos mais importantes, como homicídio, é que vai perito. Em casos gerais, dificilmente perito vai. A investigação precisa de muito mais recurso porque um caso não vai ser resolvido sem investigação.
Você chegou a pesquisar o valor ideal para o salário de um policial?
Não. Foi mais conversas com policiais. O salário do policial [soldado da PM em São Paulo] é de R$ 2.000 e pouco [com as gratificações], só que o cara tem que trabalhar em dois bicos em que, às vezes, pagam mais do que isso. Para sustentar mesmo família, viver em condições dignas, ele tem que ganhar mais ou menos o triplo do salário. Então, é uma situação muito difícil.
Isso seria uma das causas para a corrupção policial?
Em geral, fala-se isso. Por exemplo, esse policial que ganha R$ 2.000, que vai atrás do crime organizado e que de repente pega um cara que tem muito dinheiro na mão, com R$ 5.000 no bolso. Esse policial, que ganha muito mal, fica numa situação difícil porque ele sabe que pode pegar, pode levar, e vai ser muito difícil alguém ir atrás dele. O cara pode até ter muito moral, falar que é honesto, mas com o tempo é muito difícil não entrar na onda porque esse cara não consegue sair da comunidade onde foi criado, que é onde tem esses criminosos mais poderosos. Claro que ele quer sair, mas fica difícil.
O que você observou do papel do Estado durante essas situações críticas?
No meu entender, o policial de baixo escalão fala que não faz parte do Estado. Ele tem esse sentimento de que quem manda está em outro sistema totalmente diferente do dele. Ele fala "o Estado faz isso, que manda" como se ele não fizesse parte daquilo, como se a polícia não fizesse parte desse Estado que manda. Ele se sente deslocado de quem está falando como deve ser e como vai melhorar.
Do que você pesquisou até agora, o que precisa ser feito para melhorar o sistema de segurança do Estado?
A questão do salário é muito importante, mas não é o ponto central.  Outra coisa, é que o policial em geral tem que ser valorizado dentro das suas próprias comunidades. Por exemplo, seria muito bom chegar a um ponto em que o morador reconheça que o policial mora do seu lado e que se houver algum problema, ele pode procurar o policial, que ele vai entender, vai encaminhar para o lugar certo, alguém de confiança. Tem que fortalecer muito mais a investigação, para apurar os casos, desenvolver bem melhor do que o que está sendo feito agora. Tanto casos de homicídios, como de outros. A demora é muito grande para investigar, tem casos em que a pericia nem chega ao local do crime. Para fazer um laudo, demora mais de um mês. Então, é muito difícil. Em geral, a polícia tem que ser mais valorizada e receber mais investimento. Ficou desse jeito agora porque a população não confia na policia e tem razões históricas pra isso. A política acabou se afastando da polícia também. É mais fácil contratar segurança privada do que confiar na polícia. É importante que a política lá em cima tente reformar a visão da policia em geral. Tentar mudar a ideia de que policial é corrupto ou violento ou os dois para a que o policial está trabalhando para melhorar a sociedade e está do lado do cidadão. E que não precisa ser um policial violento, e sim um policial investigativo. Tem que valorizar uma polícia que seja mais proativa do que reativa.
Do início da sua pesquisa até o momento, você percebeu alguma mudança nas ações do Estado? Alguma melhora?
Já melhorou um pouco. A corregedoria, por exemplo, foi para a Secretaria de Segurança Pública em vez de ser da Polícia Civil. Teve algumas mudanças estruturais dentro da instituição que foram importantes. Mas você vê que essas mudanças só acontecem depois de algum caso polêmico. Os ataques de 2006, por exemplo, o caso daquela escrivã despida à força, tem esses casos polêmicos que saem na mídia e o Estado acaba reagindo e faz alguma coisa. Os avanços foram por causa disso, em vez de investimento, é reação. Tem que ser mais proativo do que reativo.
PS: Achei interessante essa matéria, pois vai de encontro ao que trabalhei no semestre passado sobre a criminalidade e suas novas formas de estabelecer uma subcultura própria, como mecanismo de dominação. Depois posto o texto que produzi.




segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

De repente, classe C



Sou ex-pobre. Todos querem me vender geladeira agora. O trem ainda quebra todo dia, o bairro alaga. Mas na TV até trocaram um jornalista para me agradar

Eu me considerava um rapaz razoavelmente feliz até descobrir que não sou mais pobre e que agora faço parte da classe C.
Com a informação, percebi aos poucos que eu e minha nova classe somos as celebridades do momento. Todo mundo fala de nós e, claro, quer nos atingir de alguma forma.
Há empresas, publicações, planos de marketing e institutos de pesquisa exclusivamente dedicados a investigar as minhas preferências: se gosto de azul ou vermelho, batata ou tomate e se meus filmes favoritos são do Van Damme ou do Steven Seagal.
(Aliás, filmes dublados, por favor! Afinal, eu, como todos os membros da classe C, aparentemente tenho sérias dificuldades para ler com rapidez essas malditas legendas.)
A televisão também estudou minha nova classe e, por isso, mudou seus planos: além do aumento dos programas que relatam crimes bizarros (supostamente gosto disso), as telenovelas agora têm empregadas domésticas como protagonistas, cabeleireiras como musas e até mesmo personagens ricos que moram em bairros mais ou menos como o meu.
A diferença é que nesses bairros, os da novela, não há ônibus que demoram duas horas para passar nem buracos na rua.
Um telejornal famoso até trocou seu antigo apresentador, um homem fino e especialista em vinhos, por um âncora, digamos, mais povão, do tipo que fala alto e gosta de samba. Um sujeito mais parecido comigo, talvez. Deve estar lá para chamar a minha atenção com mais facilidade.
As empresas viram a luz em cima da minha cabeça e decidiram que minha classe é seu novo alvo de consumo. Antes, quando eu era pobre, de certo modo não existia para elas. Quer dizer, talvez existisse, mas não tinha nome nem capital razoável.
De modo que agora elas querem me vender carros, geladeiras de inox, engenhocas eletrônicas, planos de saúde e TV por assinatura. Tudo em parcelas a perder de vista e com redução do IPI.
E as universidades privadas, então, pipocam por São Paulo. Os cursos custam R$ 200 reais ao mês, e isso se eu não quiser pagar menos, estudando à distância.
Assim como toda pasta de dente é a mais recomendada entre os dentistas, essas universidades estão sempre entre as mais indicadas pelo Ministério da Educação, como elas mesmas alardeiam. Se é verdade ou não, quem pode saber?
E se eu não acreditar na educação privada, posso tentar uma universidade pública, evidentemente. Foi o que fiz: passei numa federal, fiz a matrícula e agora estou em greve porque o campus cai aos pedaços. Não tenho nem sala de aula.
Não que eu não esteja feliz com meu novo status de consumidor, não deve ser isso. (Agora mesmo escrevo em um notebook, minha TV tem cem canais de esporte e minha mãe prepara a comida num fogão novo; se isso não for felicidade, do que se trata, então?)
O problema é que me esforço, juro, mas o ceticismo ainda é minha perdição: levo 2h30 para chegar ao trabalho porque o trem quebra todos os dias, meu plano de saúde não cobre minha doença no intestino e morro de medo das enchentes do bairro.
Ou seja, ao mesmo tempo em que todos querem me atingir por meu razoável poder de consumo, passo por perrengues do século passado. Eu e mais de 30 milhões de pessoas -não somos pobres, mas classe C.
Deixa eu terminar por aqui o texto, porque daqui a pouco vão me chamar de chato ou, pior, de comunista. Logo eu, que só li Marx na versão resumida em quadrinhos. Fazer o quê, se eu gosto é de autoajuda?

LEANDRO MACHADO, 23, é estudante de letras na Universidade Federal de São Paulo, mora em Ferraz de Vasconcelos (SP) e escreve no blog Mural, da Folha

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/54594-de-repente-classe-c.shtml

Este texto foi utilizado na aula da pós graduação em Sócio psicologia, na disciplina de Sociologia Contemporânea. Achei muito bacana e por isso quis compartilhar, visto que o mesmo representa muito bem, e com a dose certa de sacarmo, a atual classe C. 
É uma reflexão muito interessante, pensar que a nova "classe" C é intitulada de acordo com a visão dos economicistas, mas quais simbologismo é pertencente a essa classe? Será que mesmo com uma renda de classe C a cultura e o Habitus desse grupo são aceitos socialmente dentro deste norte?

É ainda tem muito que se pensar sobre este novo fenômeno...

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Sociólogo analisa obra que retrata a culinária paulista do final do século 19


Todo paulista deveria ir, ao menos uma vez na vida, à Pinacoteca do Estado. Indo à Pinacoteca, deveria estacionar diante do quadro de Almeida Júnior, "Cozinha Caipira" (1895).
Diante do quadro, vasculhar os componentes da cozinha e demorar-se na solidão da mulher de cócoras, catando feijão na peneira -iluminada pela luz estreita que atravessa a porta, a mostrar a posição herdada dos índios.
Diante da sua solidão, meditar sobre o verso de João Cabral de Melo Neto: "Catar feijão se limita com escrever".
O quadro de Almeida Júnior expressa uma ideia profunda sobre o caipira: o abandono na pobreza. Tudo é tosco, caindo aos pedaços (como as paredes), sem que qualquer elemento tenha grandeza e dignidade.
O forno romano (que hoje chamamos "forno de pizza"), à esquerda em primeiro plano, tem uma história maravilhosa de Roma a nossos dias, passando pela Catalunha medieval, de onde se difundiu. Mas está lá, desmilinguido, incorporado ao quadro como ruína de antiga civilização.
O banquinho indígena, em primeiro plano, à direita, evoca outra ruína civilizatória, como a perguntar: o que fizemos com os índios?
No segundo plano, à esquerda, um grande pote vazio, ladeando um pilão talhado em tronco de árvore. Ao fundo, o fogão a lenha, sobre o qual se vê no fumeiro uns embutidos e um pedaço de toucinho de porco; à direita do fogão, a porta que tem por sentinela uma galinha e oseu minúsculo pintinho. E, ao fundo, no quintal, um verde milharal.
Editoria de Arte/Folhapress
A POBREZA DO JECA
Milho, galinha, toucinho, feijão catado -coisas que, combinadas com simplicidade, hoje achamos iguarias, mas que expressam justamente a pobreza do Jeca que Monteiro Lobato descreveria algumas décadas depois.
Da representação da pobreza em "Cozinha Caipira" à materialização do requinte de hoje, a culinária parece ser esse terreno onde deslizamos do presente ao passado sem tropeçar no fato de que encarna uma história que preferimos apagada pelo tempo.
Relações sociais dramáticas, de uma civilização de frangalhos, plasmadas hoje como coisas saborosas.
Massacramos os índios e nos vimos como heróis, bandeirantes. Recobrimos tudo com pizza e molho de tomate; além dos sushis e quibes, é claro. São Paulo não tem história digna desse nome porque ela é feia, muito feia.
Sangue e pobreza. Importamos a história culinária dos imigrantes junto aos sabores que competem com a cozinha caipira. Mas Almeida Júnior está na Pinacoteca justamente para nos lembrar dessa outra história. A história de cócoras.
E quando comemos feijão com toucinho ou linguiça, ou quirerinha de milho com frango ou suã de porco, somos um pouco como os índios ianomâmi. Seus mortos, feitos em cinzas e misturados a outras coisas, eles comem em silêncio para que sejam esquecidos e, assim, ultrapassem os umbrais do Paraíso.
Carlos Alberto Dória é sociólogo, autor do livro "A Formação da Culinária Brasileira" (ed. Publifolha) 
Conheça a obra
Onde Pinacoteca
Endereço Praça da Luz, 2, tel. 0/xx/11/3324-1000

Blog do Carlos: http://ebocalivre.blogspot.com.br/


Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/comida/1195842-sociologo-analisa-obra-que-retrata-a-culinaria-paulista-do-final-do-seculo-19.shtml

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Filme "A Onda"

Baseado em uma história real o filme "A Onda" mostra como é possível a criação de doutrinas ideológicas em sala de aula, não só no passado, mas atualmente.
O filme que foi adaptado do ensaio The Third Wave (A Terceira Onda), do professor de História Ron Jones, no qual relata sua experiência numa escola da Califórnia (EUA), em 1967, na tentativa de explicar na prática como Hitler e o Partido Nazista chegaram ao poder na Alemanha. 

Tudo acontece em uma semana de aula onde o professor e seus alunos criam o movimentoA Onda, tudo a partir de normas de conduta, espírito coletivo, disciplina e a busca de um bem maior.

O filme mostra a vida pessoal de alguns alunos, deixando claro que dependendo da familia e dos problemas que determinadas pessoas podem ter, são mais fáceis de serem manipuladas.
O filme conta com um final quase que trágico em uma partida de pólo aquático onde o professor, quase que tardiamente, percebe que precisa por um ponto final em tudo aquilo.

O Filme é bom e com certeza recomendado a todos em geral, pois fenômenos como massificação, fanatismo e intolerância são perigosos e quem sabe não estão aí positivos e operantes?


quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Los Sebosos Postizos lançam CD e vinil em tributo a Jorge Ben Jor


Em um ano de tímidos tributos aos 70 anos de Jorge Ben Jor (comemorados em março), enfim aparece um à altura do homenageado. Ainda que o lançamento não tenha sido planejado para casar com a efeméride.
Projeto antigo de alguns dos integrantes da Nação Zumbi, o Los Sebosos Postizos lança agora disco homônimo, em CD e vinil, com interpretações de sucessos e outras canções menos conhecidas de Ben Jor.
Surgido em 1998 no show chamado "Noite do Ben", o projeto já era bem conhecido de shows e na internet.
Em 2004, o grupo formado por Jorge Du Peixe (voz), Lúcio Maia (guitarra), Dengue (baixo) e Pupillo (bateria) viu o áudio do registro com 20 músicas de um show no Sesc Pompeia se alastrar na rede.
Oito anos depois, eles lançam o disco, com 14 faixas no CD e 11 no vinil. O trabalho foi produzido, gravado e mixado por Mario Caldato Jr.


MATURAÇÃO
"Esse tempo serviu para a gente dar uma maturada nas músicas. E acho que esse é o caminho certo de gravar um disco. Você leva para o palco, experimenta as músicas e depois vai para o estúdio", comenta Jorge Du Peixe.
O repertório vai desde 1963, do LP inaugural do compositor, cantor e violonista, "Samba Esquema Novo", até 1972, ano do antológico "A Tábua de Esmeralda".
Deste disco, o Los Sebosos fez arranjos para clássicos como "Minha Teimosia, Uma Arma Pra Te Conquistar", "Os Alquimistas Estão Chegando", "O Homem da Gravata Florida" e "Cinco Minutos".
"Quando a gente foi morar no Rio, começou a fuçar naqueles discos bem arranjados e orquestrados do Ben Jor pela Philips. Não era nada forçado, mas o 'Tábua de Esmeralda' rolava pelo menos uma vez por dia", diz Du Peixe.


Por que alguns falam mais errado?


Estes dias, conversando com algunas amigos, percebi até onde chega a arrogancia individual. Dentre eles há uma pessoa formada em letras (fato importante kkk). Falava-mos sobre as variantes linguisticas e como lidar com elas, quando um deles (a formada) disse o quanto seu coração doia quando escutava alguém dizer "pra mim fazer", falou: "Fico arrepiada quando escuto isso". Eu apenas sorri.
Mais tarde, antes de deitar, comecei a pensar no assunto e me perguntei "por que há erros mais errados que os outros?".
Quando um 'erro de português' já se instalou definitivamente na língua falada pelos cidadãos mais letrados, ele passa despercebido e já não provoca reações negativas (ainda que seja condenado pela gramatica normativa). Percebi que quanto menos prestigiado é um individuo (seja social ou intelectualmente), mais erros os membros 'privilegiados' encontram na lingua dele.
É isso que faz com que doa o coração de minha amiga quando escuta "pra mim fazer", mas não haja nenhuma reação quando a mesma diz "deixa eu entrar".
Acredito que situações como estas não passam de puro preconceito, todos sabemos que existe uma norma culta,ok, mas não podemos impo-la.Existe uma grande diversidade cultural e linguistica e devmos respeita-las. O que temos que ter, é dissernimento para interpretar situações cotidianas para saber quando impregar a norma culta.
Ver este tipo de situação me causa um incomodo, pois imagino que isto não passa de preconceitos engessados por uma classe dominante e reproduzidos por aqueles que um dia fizeram uma graduação, teem um bom emprego e julgam-se donos do conhecimento, aqueles que esqueceram que são e de onde vieram, que ignoram suas raizes

“Assim como os instrumentos de trabalho mudam historicamente, os instrumentos de pensamento também se transformam historicamente. E assim como novos instrumentos de trabalho dão origem a novas estruturas sociais, novos instrumentos dão origem a novas estruturas mentais.”
L.S.VYGOTSKY 
§

B Negão-A Verdadeira dança do Patinho-HD

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Para entender o julgamento do "mensalão"

O julgamento de casos com importante componente político ou religioso não se faz por meio do puro silogismo jurídico tradicional: a interpretação das normas jurídicas pertinentes ao caso, como premissa maior; o exame dos fatos, como premissa menor, seguindo logicamente a conclusão. O procedimento costuma ser bem outro. Em casos que tais, salvo raras e honrosas exceções, os juízes fazem interiormente um pré-julgamento, em função de sua visão de mundo. O artigo é de Fábio Konder Comparato.

Fábio Konder Comparato

Ao se encerrar o processo penal de maior repercussão pública dos últimos anos, é preciso dele tirar as necessárias conclusões ético-políticas.
Comecemos por focalizar aquilo que representa o nervo central da vida humana em sociedade, ou seja, o poder.
No Brasil, a esfera do poder sempre se apresentou dividida em dois níveis, um oficial e outro não-oficial, sendo o último encoberto pelo primeiro.
O nível oficial de poder aparece com destaque, e é exibido a todos como prova de nosso avanço político. A Constituição, por exemplo, declara solenemente que todo poder emana do povo. Quem meditar, porém, nem que seja um instante, sobre a realidade brasileira, percebe claramente que o povo é, e sempre foi, mero figurante no teatro político.
Ainda no escalão oficial, e com grande visibilidade, atuam os órgãos clássicos do Estado: o Executivo, o Legislativo, o Judiciário e outros órgãos auxiliares. Finalmente, completando esse nível oficial de poder e com a mesma visibilidade, há o conjunto de todos aqueles que militam nos partidos políticos.
Para a opinião pública e os observadores menos atentos, todo o poder político concentra-se aí.
É preciso uma boa acuidade visual para enxergar, por trás dessa fachada brilhante, um segundo nível de poder, que na realidade quase sempre suplanta o primeiro. É o grupo formado pelo grande empresariado: financeiro, industrial, comercial, de serviços e do agronegócio.
No exercício desse poder dominante (embora sempre oculto), o grande empresariado conta com alguns aliados históricos, como a corporação militar e a classe média superior. Esta, aliás, tem cada vez mais sua visão de mundo moldada pela televisão, o rádio e a grande imprensa, os quais estão, desde há muito, sob o controle de um oligopólio empresarial. Ora, a opinião – autêntica ou fabricada – da classe média conservadora sempre influenciou poderosamente a mentalidade da grande maioria dos membros do nosso Poder Judiciário.
Tentemos, agora, compreender o rumoroso caso do “mensalão”.
Ele nasceu, alimentou-se e chegou ao auge exclusivamente no nível do poder político oficial. A maioria absoluta dos réus integrava o mesmo partido político; por sinal, aquele que está no poder federal há quase dez anos. Esse partido surgiu, e permaneceu durante alguns poucos anos, como uma agremiação política de defesa dos trabalhadores contra o empresariado. Depois, em grande parte por iniciativa e sob a direção de José Dirceu, foi aos poucos procurando amancebar-se com os homens de negócio.
Os grandes empresários permaneceram aparentemente alheios ao debate do “mensalão”, embora fazendo força nos bastidores para uma condenação exemplar de todos os acusados. Essa manobra tática, como em tantas outras ocasiões, teve por objetivo desviar a atenção geral sobre a Grande Corrupção da máquina estatal, por eles, empresários, mantida constantemente em atividade magistralmente desde Pedro Álvares Cabral.
Quanto à classe média conservadora, cujas opiniões influenciam grandemente os magistrados, não foi preciso grande esforço dos meios de comunicação de massa para nela suscitar a fúria punitiva dos políticos corruptos, e para saudar o relator do processo do “mensalão” como herói nacional. É que os integrantes dessa classe, muito embora nem sempre procedam de modo honesto em suas relações com as autoridades – bastando citar a compra de facilidades na obtenção de licenças de toda sorte, com ou sem despachante; ou a não-declaração de rendimentos ao Fisco –, sempre esteve convencida de que a desonestidade pecuniária dos políticos é muito pior para o povo do que a exploração empresarial dos trabalhadores e dos consumidores.
E o Judiciário nisso tudo?Sabe-se, tradicionalmente, que nesta terra somente são condenados os 3 Ps: pretos, pobres e prostitutas. Agora, ao que parece, estas últimas (sobretudo na high society) passaram a ser substituídas pelos políticos, de modo a conservar o mesmo sistema de letra inicial.
Pouco se indaga, porém, sobre a razão pela qual um “mensalão” anterior ao do PT, e que serviu de inspiração para este, orquestrado em outro partido político (por coincidência, seu atual opositor ferrenho), ainda não tenha sido julgado, nem parece que irá sê-lo às vésperas das próximas eleições. Da mesma forma, não causou comoção, à época, o fato de que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tivesse sido publicamente acusado de haver comprado a aprovação da sua reeleição no Congresso por emenda constitucional, e a digna Procuradoria-Geral da República permanecesse muda e queda.
Tampouco houve o menor esboço de revolta popular diante da criminosa façanha de privatização de empresas estatais, sob a presidência de Fernando Henrique Cardoso. As poucas ações intentadas contra esse gravíssimo atentado ao patrimônio nacional, em particular a ação popular visando a anular a venda da Vale do Rio Doce na bacia das almas, jamais chegaram a ser julgadas definitivamente pelo Poder Judiciário.
Mas aí vem a pergunta indiscreta: – E os grandes empresários? Bem, estes parecem merecer especial desvelo por parte dos magistrados.
Ainda recentemente, a condenação em primeira instância por vários crimes econômicos de um desses privilegiados, provocou o imediato afastamento do Chefe da Polícia Federal, e a concessão de habeas-corpus diretamente pelo presidente do Supremo Tribunal, saltando por cima de todas as instâncias intermediárias.
Estranho também, para dizer o mínimo, o caso do ex-presidente Fernando Collor. Seu impeachment foi decidido por “atentado à dignidade do cargo” (entenda-se, a organização de uma empresa de corrupção pelo seu fac-totum, Paulo Cezar Farias). Alguns “contribuintes” para a caixinha presidencial, entrevistados na televisão, declararam candidamente terem sido constrangidos a pagar, para obter decisões governamentais que estimavam lícitas, em seu favor. E o Supremo Tribunal Federal, aí sim, chamado a decidir, não vislumbrou crime algum no episódio.
Vou mais além. Alguns Ministros do Supremo Tribunal Federal, ao votarem no processo do “mensalão”, declararam que os crimes aí denunciados eram “gravíssimos”. Ora, os mesmos Ministros que assim se pronunciaram, chamados a votar no processo da lei de anistia, não consideraram como dotados da mesma gravidade os crimes de terrorismo praticados pelos agentes da repressão, durante o regime empresarial-militar: a saber, a sistemática tortura de presos políticos, muitas vezes até à morte, ou a execução sumária de opositores ao regime, com o esquartejamento e a ocultação dos cadáveres.
Com efeito, ao julgar em abril de 2010 a ação intentada pelo Conselho Federal da OAB, para que fosse reinterpretada, à luz da nova Constituição e do sistema internacional de direitos humanos, a lei de anistia de 1979, o mesmo Supremo Tribunal, por ampla maioria, decidiu que fora válido aquele apagamento dos crimes de terrorismo de Estado, estabelecido como condição para que a corporação militar abrisse mão do poder supremo. O severíssimo relator do “mensalão”, alegando doença, não compareceu às duas sessões de julgamento.
Pois bem, foi preciso, para vergonha nossa, que alguns meses depois a Corte Interamericana de Direitos Humanos reabrisse a discussão sobre a matéria, e julgasse insustentável essa decisão do nosso mais alto tribunal.
Na verdade, o que poucos entendem – mesmo no meio jurídico – é que o julgamento de casos com importante componente político ou religioso não se faz por meio do puro silogismo jurídico tradicional: a interpretação das normas jurídicas pertinentes ao caso, como premissa maior; o exame dos fatos, como premissa menor, seguindo logicamente a conclusão.
O procedimento mental costuma ser bem outro. De imediato, em casos que tais, salvo raras e honrosas exceções, os juízes fazem interiormente um pré-julgamento, em função de sua mentalidade própria ou visão de mundo; vale dizer, de suas preferências valorativas, crenças, opiniões, ou até mesmo preconceitos. É só num segundo momento, por razões de protocolo, que entra em jogo o raciocínio jurídico-formal. E aí, quando se trata de um colegiado julgador, a discussão do caso pelos seus integrantes costuma assumir toda a confusão de um diálogo de surdos.
Foi o que sucedeu no julgamento do “mensalão”.

http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=21075&alterarHomeAtual=1

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

#Dicas#

Fonte: http://lulacerda.ig.com.br/

A psicanalista Bieatriz Kuhn dá dicas para para manter a cabeça no lugar, digamos assim
Depois de estudar Psicologia e Arqueologia, Beatriz Kuhn fez formação psicanalítica naSociedade Brasileira de Psicanálise do Rio e pertence à IPA (International Psychoanalytical Association). Quando sobra tempo, pode ser também militante política, como aconteceu em 2004: no auge da violência carioca, fundou o Movimento “BASTA!” de repercussão nacional. Bia Kuhn, instalada na Lagoa, está entre aquelas que vivem de consultório lotado. Foi convidada aqui para dar dicas que podem contribuir para que você tenha uma boa cabeça. (beatrizkuhn@terra.com.br).

1
A ética se constrói
Aquele que foi capaz de transformar a moral em ética… O moralista não tem uma cabeça boa; menos ainda um sujeito amoral ou imoral. A ética se constrói de dentro pra fora, a partir da percepção do outro, da empatia que nos coloca no lugar dele e nos impede de lhe fazer mal. É solida. A moral é imposta de fora pra dentro, goela abaixo, e é sustentada pelo temor à penalidade.
2
Rir de si próprio
Muitos pontos para aquele que se tornou capaz de rir de si próprio e das vicissitudes da vida. Temos aqui os dois pontos mais indicativos da evolução de uma pessoa ou de um grupo cultural: ética e senso de humor.
3
O outro não é um objeto
Ser capaz de perceber que o outro é um sujeito (pessoa), e não um objeto de uso pessoal. Parece simples e banal, mas não é: trata-se de uma aquisição psíquica.
4
Imaginar o que sente
Empatia. Uma vez percebida a existência de uma pessoa no outro, ser capaz de colocar-se em seu lugar e imaginar o que sente.
5
Aceitar as diferenças
Tolerância à alteridade. Não é possível ter-se uma cabeça boa, sem saber lidar e aceitar as inevitáveis diferenças entre o eu e o outro.
6
Duas doses de ceticismo
Quanto mais primitivo for o sujeito ou o grupo cultural, mais estará mergulhado em crendices e magia. Pessoas e sociedades evoluídas encaram mais de frente e com menos ilusão o desamparo e a impotência humana. Vide o Haiti…
7
Idealizações moderadas
Na paralela das crendices do mundo mágico, encontramos as idealizações. Poucas coisas contribuem tanto para a infelicidade da alma como o excesso de idealizações. Nem nada e nem ninguém são satisfatórios quando comparados a essas idealizações, a começar pela própria pessoa.
8
Inveja e gratidão
Ter feito o percurso que leva da inveja à gratidão. O que subsidia a inveja é a idealização da vida do próximo. É aquele cara que acredita no que vê na revista “Caras” e acha que só a vida dele é que é “Bundas”. Quanto mais a pessoa é capaz de perceber que estamos todos no mesmo barco, que Deus não deu asas a cobras, mais e mais se torna capaz de reconhecer e valorizar seus ganhos e, por fim, agradecer por eles.
9
Solidão é para felino
Autonomia e independência, para conjugar no singular, toda vez que se faz necessário ao longo do percurso. A autossuficiência não é para nossa espécie, que é gregária. Solidão é coisa para felino – leopardo é que curte viver sempre sozinho.
10
Bom é aqui e agora
Resumindo: cabeça boa tem aquele sujeito que deixou de ser patológico e tornou-se um “pato lógico”. O que é isso? É aquele cara que abandonou as falsas esperanças, as grandes pretensões e desistiu de choramingar suas mazelas, porque a lógica se sobrepôs ao medo e lhe fez ver que bom é aqui e agora, mesmo que imperfeito e insatisfatório; depois, só piora… Como é “lógico”, sabe que seu destino inexorável é tornar-se um “magret de canard” (peito do pato).

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

“Tentativa” mostra crises existenciais de uma mulher no Sesc Consolação


Espetáculo tem texto assinado por Tatiana Schunck e Henrique Schafer
"Tentativa" tem duração de 50 minutos
A difícil transição de uma mulher complexada é o tema da espetáculo“Tentativa”, em cartaz no Sesc Consolação entre 4 de outubro e 1º de novembro, com ingressos até R$ 10.
No palco, a atriz Tatiana Schuck interpreta o papel de uma mulher que decide revisitar suas lembranças e passá-las a limpo, como uma forma de análise se consciência, onde ela conversa com si mesma e com o público sobre a crise que a afeta.
Com duração de 50 minutos, o espetáculo tem direção e Henrique Schafer e nasceu a partir da leitura de depoimentos de sofrem do transtorno de Boderline – que tem a oscilação de humor, impulsividade emocional e incômodo com o mundo como principais sintomas.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Capital Cultural



A metáfora criada pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu busca explicar como a escola, ao não levar em conta o capital cultural de alunos vindos de diferentes meios sociais, ajuda a manter essas diferenças e estratificar a sociedade.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Artista faz série de autorretratos sob o efeito de várias drogas


Um artista encontrou uma maneira pouco ortodoxa de obter uma visão diferente de si mesmo e da sua arte. Bryan Lewis Saunders, 43, resolveu fazer uma série de autorretratos sob o efeito de diferentes drogas. Ao "F5", ele contou que a ideia surgiu após ele se mudar para um prédio em que "havia muita pessoas cujas vidas aconteciam ao redor das drogas"". O experimento aconteceu em agosto de 2001, mas voltou a bombar na web semana passada. Para ser realizado, ele usou cerca de 18 drogas --remédios controlados, maconha, cocaína, entre outras-- em 11 dias. Algumas delas foram consumidas em conjunto, mas ele não sabe precisar a quantidade exata que usou de cada uma. Saunders contou que já tinha provado algumas substâncias, mas que nunca tinha trabalhado sob o efeito delas. "Eu só provava as drogas que as pessoas me davam quando batiam em minha porta". Das 18 drogas, o artista disse que é fácil dizer qual produziu os melhores efeitos, o Xanax, um ansiolítico que foi "consumido em doses desconhecidas pelos hospitais", como ele mesmo descreve em uma de suas obras. A obsessão de Saunders com autorretratos começou bem antes do experimento. Em 1995, ele decidiu fazer um retrato seu por dia. "Tive duas razões para fazer isso. Queria ver se a arte podia ser terapêutica e me ajudar a criar sentimentos. E eu pensei que, se todo dia era um novo dia, então nenhum desenho deveria ser igual ao outro", contou.Além de artista plástico, Bryan também faz permances ao vivo e é videomaker. 

2mg de Xanax

2mg de chiletes de nicotina

4mg de Dilaudid

Uma taça do "verdadeiro" absinto (não aquela porcaria falsa)

10mg de Ambien

7.5mg Hydrocodone / 7.5mg Oxycodone / 3mg Xanax

Sais de banho

15mg de Buspar (inalado)

Óleo de haxixe extraído com butano

1/2 gramas de cocaína

1 dose de cristais de metanfetamina

Morfina IV (dosagem desconhecida)

G13 Marijuana (espécie de maconha

Ativan e Haloperidol (dosagem desconhecida em hospitais)

Fonte: http://f5.folha.uol.com.br/humanos/1137075-artista-faz-serie-de-autorretratos-sob-o-efeito-de-varias-drogas.shtml

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Epidemia de amor pelas crianças



1) É habitual que, na infância e na adolescência, um jovem sonhe com vitórias e aplausos, sem pensar nos esforços necessários para merecê-los.
Nestes dias, deparo-me com crianças ninadas por devaneios de glória olímpica. Sem querer, corto seu barato, explicando o que é indispensável fazer para que esses sonhos se transformem numa chance real de chegar lá.
As crianças respondem que elas não têm a intenção de realizar o tal sonho: apenas querem o prazer de devanear em paz. Até aqui, tudo bem, mas os pais me acusam de estragar, além dos sonhos, o futuro dos filhos, os quais, segundo eles, para triunfar na vida, precisariam confiar cegamente em seus dotes.
O problema é que os elogios incondicionais dos pais e dos adultos não produzem "autoconfiança", mas dependência: os filhos se tornam cronicamente dependentes da aprovação dos pais e, mais tarde, dos outros. "Treinados" dessa forma, eles passam a vida se esforçando, não para alcançar o que desejam, mas para ganhar um aplauso.
Claro, muitos pais gostam que assim seja, pois adoram se sentir indispensáveis (no cinema, uma mãe enfia a cara embaixo de seu próprio assento para atender o telefone que vibrou no meio do filme e sussurrar um importantíssimo: sim, pode tomar refrigerante).
2) Meu irmão, aos dez anos, quis que todos escutássemos uma música que ele acabava de "compor". Movimentando ao acaso os dedos sobre o teclado (não tínhamos a menor educação musical), ele cantou uma letra que começava assim: sou bonito e eu o sei. Minha mãe escutou, constrangida, e, no fim, declarou que a letra era uma besteira, e a música, inexistente. Mas, se meu irmão quisesse, ele poderia estudar piano --à condição que se engajasse a se exercitar uma hora por dia. Meu irmão (desafinado como eu) desistiu disso e se tornou um médico excelente.
3) Os pais dos meus pais davam, no máximo, um beijo na testa de seus filhos. Já meus pais nos beijavam e abraçavam. Mesmo assim, não éramos o centro da vida deles, enquanto nossos filhos são facilmente o centro da nossa.
Para a geração de meus avós e de meus pais, a vida dos adultos não devia ser decidida em função do interesse das crianças, até porque o principal interesse das crianças era sua transformação em adulto (criança tem um defeito, foi-me dito uma vez por um tio: o de ser ainda só uma criança).
Lá pelos meus oito anos, eu tinha passado o domingo com meus pais, visitando parentes. A noite chegou, e eu não tinha nem começado meu dever de casa. Pedi uma nota assinada que me desculpasse. Meu pai disse: esta criança está com sono e deve trabalhar, façam um café para ele. Detestei, mas também gostei de aprender que, mesmo na infância, há coisas mais importantes do que sono e bem-estar.
4) Na pré-estreia do último "Batman", em Aurora, Colorado, um atirador feriu 58 pessoas e matou 12. Um comentador da TV norte-americana (não sei mais qual canal) disse, de uma menina assassinada, que ela era "uma vítima inocente".
Se só a menina era inocente, quer dizer que os outros 11, por serem adultos, eram culpados e mereciam os tiros?
Tudo bem, estou sendo de má-fé: o comentador queria nos enternecer e supunha, com razão, que, para a gente, perder um adulto fosse menos grave do que perder uma criança, que tem sua vida pela frente e, como se diz, ainda é "um anjo". No entanto, eu não acredito em anjos e ainda menos acredito que crianças sejam anjos. Também não sei o que é mais grave perder: a esperança de um futuro ou o patrimônio das experiências acumuladas de uma vida? Você trocaria seus bens atuais por um bilhete da Mega-Sena de sábado que vem?
5) Cuidado, não sonho com uma impossível volta ao passado. Essas notas servem para propor uma mudança preliminar na maneira de contabilizar as falhas que podem atrapalhar a vida de nossos rebentos. Explico.
A partir do fim do século 18, no Ocidente, as crianças adquiriram um valor novo e especial. Únicas continuadoras de nossas vidas, elas foram encarregadas de compensar nossos fracassos por seu sucesso e sua felicidade.
Desde essa época, em que as crianças começaram a ser amadas e cuidadas extraordinariamente, nós nos preocupamos com os efeitos nelas de uma eventual falta de amor. Agora, começo a pensar que nossa preocupação com os estragos produzidos pela falta de amor sirva, sobretudo, para evitar de encarar os estragos produzidos pelos excessos de nosso amor pelas crianças.

Contardo Calligaris
Contardo Calligaris, italiano, é psicanalista, doutor em psicologia clínica e escritor. Ensinou Estudos Culturais na New School de NY e foi professor de antropologia médica na Universidade da Califórnia em Berkeley. Reflete sobre cultura, modernidade e as aventuras do espírito contemporâneo (patológicas e ordinárias). Escreve às quintas na versão impressa de "Ilustrada".