quinta-feira, 7 de agosto de 2014

A legalização da maconha no Uruguai ainda não saiu do papel


O Uruguai foi o primeiro país do mundo a legalizar a produção e a venda de maconha em dezembro de 2013, um papel pioneiro que tem seu preço no momento de colocá-lo em prática. A distribuição de cannabis está prevista por três vias: o autocultivo, a inscrição em um registro que dá acesso à substância nas farmácias e a entrada em um clube de maconha. O Governo uruguaio ainda não regularizou nenhuma dessas formas de consumo, mas, na prática, o autocultivo da planta está em pleno auge à espera que a lei ganhe forma.
As autoridades uruguaias acabam de fazer a primeira chamada para a licitação dos cultivadores que fornecerão para o Estado, segundo fontes próximas ao Executivo. A maconha produzida será enviada às farmácias e estará à disposição dos consumidores registrados.
A Federação Nacional de Cultivadores de Cannabis do Uruguai calcula que o investimento para iniciar uma plantação em grande escala totalize cerca de 3,4 milhões de reais. O Governo espera que a maconha esteja disponível nas farmácias em dezembro, mas muitos estimam apenas em janeiro de 2015, já que os plantadores terão que construir instalações e esperar a colheita.As empresas trabalharão em campos de propriedade do Estado, preferencialmente distantes das zonas de fronteira com o Brasil e com a Argentina. Serão selecionadas cinco firmas nacionais ou estrangeiras cuja "produção será realizada em instalações como estufas ou recintos fechados com condições controladas de temperatura, luz e umidade", detalharam as autoridades.
Outro assunto pendente é o registro de consumidores no qual deverão estar inscritos todos os que queiram ter acesso à substância nas farmácias. Uma empresa de informática trabalha no desenvolvimento de uma rede protegida contra qualquer intervenção externa, já que a lei garante a privacidade dos usuários. As agências de correios em localidades com mais de 100.000 habitantes terão autorização para inscrever os cidadãos que desejem ter acesso à maconha, com limites de consumo semanais e mensais.
O capítulo mais avançado da legalização é a criação de clubes de consumidores de maconha. As pré-inscrições para o registro legal já começaram e em breve serão oficiais.
Laura Blanco, presidenta da AECU, avalia que agora começa o trabalho de capacitação: "São necessários de três a quatro anos para formar um cultivador que possa se abastecer durante todo o ano".As unidades do clube Associação de Estudos da Cannabis do Uruguai(AECU), com sede em Montevidéu, estão em fase de construção e o ritmo é frenético. O número de cultivadores aumentou, como demonstrou um evento de degustação de maconha realizado no último dia 20 de junho, ao qual estiveram presentes 104 produtores para a votação de 155 amostras. Estas reuniões, que antes eram clandestinas, agora são apenas privadas. Os cultivadores, acostumados a ter problemas com a Justiça e com a Polícia, continuam cautelosos e por isso o clube AECU terá um local secreto ao qual terão acesso apenas os 45 sócios autorizados. Cada um pagará 350 dólares (cerca de 800 reais) de inscrição e uma cota mensal de 65 dólares (148 reais).
Não são todos os clubes que funcionam com as portas fechadas. A Hoja Roja, também entre os pré-inscritos, planeja atender a população. Julio Rey, um dos membros do clube e presidente da Federação Nacional de Cultivadores de Cannabis, confirma que há uma "explosão" do cultivo que inunda os bares de Montevidéu com flores de maconha "melhores do que qualquer prensado paraguaio".
A maconha ilegal, que vem do Paraguai, está sendo substituída em grande velocidade pelos gomos de cânhamo provenientes do autocultivo doméstico. Os consumidores assíduos afirmam que a maconha "caseira" tem muito mais aroma e um efeito mais forte, além de ser quase gratuita. Este método de produção e consumo encontra-se num limbo jurídico: o Executivo não concretizou ainda seu desenvolvimento legal na prática, mas o cultivo é tolerado sempre que não entre no circuito de venda ao público. Os cultivadores projetam que no verão haverá uma grande quantidade de flores e cânhamos disponíveis, com a lei em vigor ou não.
Fonte: http://brasil.elpais.com/brasil/2014/08/06/internacional/1407361148_070069.html

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Homens recebem salários 30% maiores que as mulheres no Brasil

Em estudo recém-divulgado, o Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID - mostra que, apesar do recente crescimento econômico e das políticas destinadas a reduzir as desigualdades, as diferenças salariais relacionadas a gênero e etnia continuam sendo significativas nos países latino-americanos.
O estudo promoveu a análise de informações domiciliares provenientes de 18 países da região, constantando que as mulheres, os/as negros/as e os/as indígenas recebem salários inferiores aos dos homens brancos na América Latina. As conclusões são parte de uma série de estudos sobre as diferenças salariais em diversos países da América Latina e estão presentes no relatório intitulado "Novo século, velhas desigualdades: diferenças salariais de gênero e etnia na América Latina", escrito pelos economistas do BID Hugo Ñopo, Juan Pablo Atal e Natalia Winder.

A pesquisa faz uma comparação entre os salários de indivíduos com as mesmas características demográficas e de emprego. A análise das disparidades salariais se dá, por um lado, por meio da avaliação da diferença de salário entre essas pessoas, baseada em seu gênero ou etnia, e, por outro, da análise da possibilidade desses grupos preteridos terem acesso a combinações de características que lhes permitiriam ganhar um maior salário no mercado de trabalho.

Disparidades salariais de gênero 

As mulheres latino-americanas ganham menos, mesmo que possuam um maior nível de instrução. Por meio de comparação simples dos salários médios, foi constatado que os homens ganham 10% a mais que as mulheres. Já quando a comparação envolve homens e mulheres com a mesma idade e nível de instrução, essa diferença sobe para 17%. Da mesma forma, a população indígena e negra ganha em média 28% menos que a população branca de mesma idade e nível de instrução. Uma das conclusões do estudo é de que a diferença salarialétnica poderia ser reduzida em quase um quarto com a melhora dos níveis de instrução dessa população.

De acordo com a pesquisa, os homens ganham mais que as mulheres em todas as faixas de idade, níveis de instrução, tipo de emprego ou de empresa. A disparidade é menor nas áreas rurais, em que as mulheres ganham, em média, o mesmo que os homens. A menor diferençasalarial relacionada a gênero está na faixa mais jovem da população que possui nível universitário, sendo a defasagem mais baixa entre trabalhadores formais e mais alta entre aqueles que trabalham em pequenas empresas.

As diferenças salariais variam muito também entre os 18 países pesquisados. O Brasil apresenta um dos maiores níveis de disparidade salarial. No país, os homens ganham aproximadamente 30% a mais que as mulheres de mesma idade e nível de instrução, quase o dobro da média da região (17,2%), enquanto na Bolívia a diferença é muito pequena. O resultado é o mesmo no que diz respeito à disparidade por raça e etnia, que chega também a 30%.

O documento traz ainda algumas recomendações para reduzir as disparidades salariais nos países latino-americanos. Por parte dos governos, a implementação de políticas no sentido de aumentar o nível educacional da população minoritária, além da implementação de um maior número de creches, o que permitiria às mulheres mais dedicação à sua vida profissional. Já no âmbito familiar, uma divisão de tarefas mais igualitária, com os pais divindo a criação dos/as filhos/as, o que daria às mulheres a possibilidade de manter suas carreiras.


Fonte:http://www.observatoriodegenero.gov.br/menu/noticias/homens-recebem-salarios-30-maiores-que-as-mulheres-no-brasil?searchterm=diferen%C3%A7a+salarial

terça-feira, 15 de julho de 2014

7 casos em que a maconha tem ação benéfica

No momento em que cresce no Brasil a tendência pela legalização do consumo da maconha, o médico Dráuzio Varella aponta 7 casos específicos em que o uso da erva tem ações benéficas

dráuzio varella maconha
Dráuzio Varella se rende aos efeitos da maconha (Pragmatismo Político)
O médico cancerologista Dráuzio Varella destacou em artigo neste sábado, 12, o potencial do uso medicinal da maconha. No momento em que cresce no Brasil a discussão pela legalização do consumo da erva, o médico lembrou que já tem quase 30 anos que a medicina conhece o papel dos canabinoides no sistema nervoso central e o papel importante que eles desempenham na modulação da dor, no controle dos movimentos, na formação e arquivamento de memórias e até na resposta imunológica de pacientes.
Dráuzio destacou a aplicação da maconha já é feita em vários países para o tratamento de diversas doenças, como glaucoma, náuseas provocadas pelo câncer, anorexia e caquexia associada à Aids, dores crônicas, inflamações, esclerose múltipla e epilepsia.
“Com tal espectro de ações em patologias tão diversas, só gente muito despreparada pode ignorar o interesse medicinal da maconha. Qual a justificativa para impedir que comprimidos de THC e de seus derivados cheguem aos que poderiam se beneficiar deles?”, questiona o médico.
Dráuzio Varella, entretanto, acredita que a liberação da maconha seria encarada pelos brasileiros como finalidade recreativa, e não medicinal. “Acho que a maconha deve ser legalizada, sim, mas por razões que discutiremos em nossa próxima coluna”, finaliza o médico.
Leia abaixo a íntegra o artigo de Dráuzio Varella, publicado no jornal Folha de S. Paulo.
Efeitos benéficos da maconha
Qual a justificativa para impedir que comprimidos de THC cheguem aos que poderiam se beneficiar?
Não são poucos os benefícios potenciais da maconha. Na última coluna falamos sobre os efeitos adversos, apresentados numa revisão recém-publicada no “The New England Journal of Medicine”.
Explicamos que os estudos nessa área padecem de problemas metodológicos. Geralmente envolvem usuários que consomem quantidades maiores, por muitos anos, acondicionadas em baseados com concentrações variáveis de tetrahidrocanabinol (THC), o componente ativo.
Como consequência, ficam sem respostas claras as consequências indesejáveis no caso dos usuários ocasionais, a grande massa de consumidores.
Em compensação, o uso medicinal do THC e dos demais canabinoides dele derivados está fartamente documentado.
A descoberta de que os canabinoides se ligavam aos receptores CB existentes na membrana celular dos neurônios aconteceu em 1988. Dois anos mais tarde, esses receptores foram clonados e mapeadas suas localizações no cérebro. Em 1992, foi identificada a anandamida, substância existente no sistema nervoso central, relacionada com os receptores, mas distinta deles.
A partir de então, diversos trabalhos revelaram que os canabinoides naturais ou sintéticos desempenham papel importante na modulação da dor, controle dos movimentos, formação e arquivamento de memórias e até na resposta imunológica.
Pesquisas com animais de laboratório demonstraram que o cérebro desenvolve tolerância aos canabinoides e que eles podem causar dependência, embora esse potencial seja menor do que o da heroína, nicotina, cocaína, álcool e de benzodiazepínicos, como o diazepan.
Hoje sabemos que o uso de maconha tem ação benéfica nos seguintes casos:
1) Glaucoma: doença causada pelo aumento da pressão intraocular, pode ser combatida com os efeitos transitórios do THC na redução da pressão interna do olho. Existem, no entanto, medicamentos bem mais eficazes.
2) Náuseas: o tratamento das náuseas provocadas pela quimioterapia do câncer foi uma das primeiras aplicações clínicas do THC. Hoje, a oncologia dispõe de antieméticos mais potentes.
3) Anorexia e caquexia associada à Aids: a melhora do apetite e o ganho de peso em doentes com Aids avançada foram descritos há mais de 20 anos, antes mesmo de surgirem os antivirais modernos.
4) Dores crônicas: a maconha é usada há séculos com essa finalidade. Os canabinoides exercem o efeito antiálgico ao agir em receptores existentes no cérebro e em outros tecidos. O dronabinol, comercializado em diversos países para uso oral, reduz a sensibilidade à dor, com menos efeitos colaterais do que o THC fumado.
5) Inflamações: o THC e o canabidiol são dotados de efeito anti-inflamatório que os torna candidatos a tratar enfermidades como a artrite reumatoide e as doenças inflamatórias do trato gastrointestinal (retocolite ulcerativa, doença de Crohn, entre outras).
6) Esclerose múltipla: o THC combate as dores neuropáticas, a espasticidade e os distúrbios de sono causados pela doença. O Nabiximol, canabinoide comercializado com essa indicação na Inglaterra, Canadá e outros países com o nome de Sativex, não está disponível para os pacientes brasileiros.
7) Epilepsia: estudo recente mostrou que 11% dos pacientes ficaram livres das crises convulsivas com o uso de maconha com teores altos de canabidiol; em 42% o número de crises diminuiu 80%; e em 32% dos casos a redução variou de 25 a 60%. Canabinoides sintéticos de uso oral estão liberados em países europeus.
Com tal espectro de ações em patologias tão diversas, só gente muito despreparada pode ignorar o interesse medicinal da maconha. Qual a justificativa para impedir que comprimidos de THC e de seus derivados cheguem aos que poderiam se beneficiar deles? Está certo jogar pessoas doentes nas mãos dos traficantes?
No entanto, o argumento de que o uso de maconha deve ser liberado em virtude dos efeitos benéficos que acabamos de enumerar, é insustentável: a imensa maioria dos usuários não o faz com finalidade terapêutica, mas recreativa.
Como diz o povo: uma coisa é uma coisa…

Carl Hart: "Um preço muito alto"

Guerra às drogas: “por que não tentar o diferente depois de tanto fracasso?”

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Para Carl Hart, “a guerra às drogas não fracassou; ela é um grande sucesso para que políticos evitem lidar com os problemas de justiça social”.
A política de proibição e de guerra às drogas provou-se um monumental fracasso no mundo inteiro. Se, por um lado, o consumo de drogas ilícitas não diminuiu, por outro, houve uma assustadora escalada da violência associada ao tráfico de entorpecentes, resultando no assassinato e no encarceramento em massa de milhares de cidadãos – em especial aqueles pertencentes a estratos sociais vulneráveis. Diante desse impasse, aumenta o coro das vozes progressistas que reforçam a necessidade da revisão das práticas truculentas de proibição às drogas, propondo uma abordagem mais humana para lidar com o problema.
É nesse contexto de necessidade de proposição de novas políticas públicas que anfiteatro da Unifesp, em São Paulo, recebeu, na tarde de terça-feira (13), dois pesquisadores estrangeiros com larga experiência no assunto.
No Brasil por ocasião do lançamento de seu livro Um Preço Muito Alto (Editora Zahar), Carl Hart, neurocientista e professor da Universidade de Columbia, compartilhou sua história de vida com a plateia que lotou o anfiteatro da universidade.
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Negro e pobre, Hart cresceu na periferia de Miami e teve trajetória parecida com a de muitos jovens afro-americanos nos guetos: praticou pequenos furtos, usou e traficou drogas. Desprovido de condições econômicas para matricular-se em uma universidade, alistou-se no exército americano na década de 1980 e, em serviço militar na Inglaterra, teve o privilégio de receber uma educação crítica que lhe abriu os olhos para as desigualdades e a discriminação racial em seu país natal. Ao voltar para os Estados Unidos, dedicou-se à pesquisa científica em assuntos relacionados ao uso de drogas, tornando-se, por fim, doutor em neurociência. “Eu pude me tornar o cientista que sou graças a programas de assistência social que, infelizmente, foram dramaticamente reduzidos por sucessivos presidentes americanos desde Ronald Reagan, inclusive os democratas”, analisou Hart.
Aliando a experiência de ter crescido nos guetos norte-americanos – e, por essa razão, ter vivenciado o impacto deletério das políticas repressoras do consumo de entorpecentes – ao rigor das análises científicas, o Dr. Carl Hart têm chamado a atenção por suas opiniões e estudos que desconstroem conceitos cristalizados sobre o vício em drogas. “É corrente a ideia de que basta uma dose de crack ou de cocaína para que, magicamente, a pessoa passe a ser viciada. O vício, por definição, exige o uso intenso e prolongado. Quem afirmar o contrário, está espalhando uma mentira científica”, provocou Hart.
O neurocientista compartilhou os resultados de testes realizados com viciados em crack, nos quais lhes era oferecido uma dose da droga ou uma determinada quantia em dinheiro. “Quanto maior o valor, mais os viciados optavam por ele. Isso indica que, se devidamente motivados, eles tomam decisões racionais como qualquer outra pessoa”, comentou. “As pessoas não usam drogas por serem loucas. As pessoas usam drogas porque elas são efetivas. Se a pessoa se vicia em crack, é porque ele tem o efeito desejado para aplacar momentaneamente os efeitos da angústia e do desamparo social.”
Em seguida, o Dr. Carl Hart ironizou o fracasso da política de repressão às drogas. “A chamada ‘guerra às drogas’ não fracassou. Ela é um grande sucesso para as autoridades empenhadas nessa missão e que ganham dinheiro às custas disso. Ela é um grande sucesso para que políticos evitem lidar com os problemas de justiça social – eles podem desumanizar todos os problemas, colocando a culpa nas drogas e deslocando a raiz da ruína social. Assim, eles não precisam tratar de temas como a falta de educação, o desemprego e a falta de assistência social.
Sobre o impacto social da criminalização da questão das drogas nos Estados Unidos, sobretudo na população negra, Hart foi enfático. “Gastam-se mais de 26 bilhões de dólares por ano no combate às drogas. Um investimento dessa envergadura exige retornos práticos e diretos. O resultado é que a principal motivo de encarceramento no país é a violação da política de proibição de narcóticos, atingindo de maneira brutalmente desproporcional a população negra, que constitui 12% da população americana, mas 75% dos condenados por transgressão da legislação antidrogas. Os negros acabam virando um bode expiatório”. Segundo o neurocientista, o Brasil repete o modelo que se provou desastroso nos Estados Unidos, ao promover a militarização das favelas e endurecer a repressão.
Outra convidada internacional presente ao debate realizado na Unifesp, a uruguaia Raquel Peyruabe, médica especializada no uso problemático de drogas e Assessora da Secretaria Nacional de Drogas do Uruguai, comentou as razões que levaram o país a aprovar um projeto de regulamentação da maconha, a ser implantado ainda este ano.
“A decisão de promover políticas públicas inovadoras, que vão na contramão das práticas de proibição, veio da constatação da ineficácia do modelo anterior. O Uruguai vinha presenciando um aumento dos índices de violência associados ao tráfico de drogas que, embora possam parecer pequenos se comparados aos de países vizinhos, eram insuportáveis para os padrões locais”, analisou.
Peryuabe ressaltou que a aprovação do modelo de regulamentação da maconha foi fruto de longo e frutífero processo de discussão política, do qual fez parte setores da sociedade civil. “A regulamentação da venda da maconha é apenas uma parte da nova legislação do Uruguai em relação às drogas. Faz parte de um projeto mais abrangente, que envolve medidas socioeducativas e de saúde para lidar com a questão”.
Depois de aprovado pela câmara, o projeto foi fortemente contestado pela oposição, pela mídia e por setores majoritários da população. Para combater a euforia negativa, o governo investiu pesadamente em um plano de mídia, informando com clareza à população as intenções da nova política e desconstruindo, ponto a ponto, com dados objetivos, os principais argumentos de oposição à regulamentação da maconha. A medida surtiu efeito e as pesquisas de opinião indicam que as taxas de desaprovação vêm caindo. “Mesmo quem ainda é contra as medidas, já sabe reconhecer seus potenciais benefícios. O importante é dialogar de maneira objetiva com a população. Mesmo que o cidadão seja ignorante sobre as questões relativas à legalização, ele compreende dilemas práticos como: ‘a partir do princípio de que os usuários vão comprar a maconha de qualquer maneira, onde vocês preferem que eles comprem: com traficantes portando revólveres ou em uma farmácia, com toda segurança?’”, disse Peryube.
Raquel considera que é do interesse de todos torcer pelo o sucesso da nova política uruguaia, que pode desencadear uma tendência em todo o continente. “Faço sempre a pergunta: por que não tentar o diferente depois de tanto fracasso? Se não estamos satisfeitos com a realidade, por que não tentar o novo, o diferente? Tudo aquilo que a população teme que ocorra com a regulação já está, de fato, acontecendo. O mercado já foi regulamentado, mas pelo crime organizado. Temos de mudar o lado da regulação. Se as substâncias psicoativas são perigosas, é o Estado que deve regular, não o crime”, concluiu a uruguaia.
*Fonte: http://www.outraspalavras.net/outroslivros/guerra-as-drogas-por-que-nao-tentar-o-diferente-depois-de-tanto-fracasso/