domingo, 20 de junho de 2010

Leite derramado






Este final de semana terminei de ler um livro que há muito estava curiosa, “Leite derramado”, do ícone Chico Buarque. Em geral gostei muito da história, mas confesso que esperava muitíssimo mais devido aos grandes balbucios que houve em seu lançamento e por ser Chico seu autor.
Fato é que por se tratar de Chico Buarque este livro já se tornou top antes mesmo de ser lançado.De qualquer forma, mesmo uma crítica que se pretenda original deve reconhecer aquilo que outros críticos já escreveram. No jornal O Globo o livro foi comparado com “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, e de fato, ao folhear suas páginas, é fácil perceber nelas notas do romance de Machado de Assis. Leite Derramado conta a história de um velho senhor que, no leito do hospital, aparentemente todas as noites, conta suas memórias de forma truncada, ora para uma enfermeira, ora para sua filha. “...o caminho para o sono é um corredor cheio de pensamentos”, nos diz o autor na página 08 do livro. E assim Chico Buarque traça as linhas de seu romance, como um caminho cheio de pensamentos. Esses pensamentos nem sempre são organizados de forma coerente. Muitas vezes o personagem principal se desmente, se repete, se perde em corredores de memórias confusas. O mais interessante dessa linguagem é que ela retrata a decadência daquele que conta a história de forma não direta, não óbvia. Embora o personagem nos conte glórias de seu passado familiar, podemos entrever por seu modo de falar e por sua confusão, pistas que nos revelam seu real estado, caracterizado por uma decadência social e econômica, tendo como pano de fundo a história do Brasil dos últimos dois séculos.



Chico Buarque. Leite derramado. São Paulo: Companhia das Letras, 2009

quinta-feira, 3 de junho de 2010

1,99 um supermercado que vende palavras




Os personagens principais são o desejo, a angústia e a compulsão por comprar. Num supermercado, os consumidores passam o tempo enchendo seus carrinhos e não conseguem sair de lá. Durante esse período de reclusão, algumas histórias curiosas acontecem. O mundo exterior só aparece mediado por máquinas como computadores, câmeras e telefones. A música foi composta por Wim Mertens.

Mas o que está a venda neste supermercado, em tons absolutamente brancos, são conceitos e idéias como amor, sucesso e família, todos dispostos como produtos em prateleiras. Exploram-se assim a falência dos valores sociais e o desejo, a angústia e a compulsão que costumam acompanhar o ato da compra.

Um filme brilhante de Marcelo Masagão.

A história das coisas




Este video é muito interessante, trata de forma simples e clara um assunto polêmico, que é o ciclo de produção e consumo. Espero que gostem e reflitão sobre o assunto.

terça-feira, 1 de junho de 2010

The Cure - Catch





Essa música...

A Exceção e a Regra

Estranhem o que não for estranho.
Tomem por inexplicável o habitual.
Sintam-se perplexos ante o cotidiano.
Tratem de achar um remédio para o abuso
Mas não se esqueçam de que o abuso é sempre a regra.


Bertolt Brecht

SE A ELEIÇÃO FOSSE HOJE...

... em qual seleção você votava? Argentina? Espanha? Costa do Marfim? Você tirava o Lula, botava o Adriano e recuava o Robinho?

Imagine o seguinte: por uma dessas coincidências a final da Copa do Mundo vai cair na mesma hora da eleição. Pra piorar, o Tribunal Eleitoral e a Globo não chegaram num acordo, então você tem que escolher: ou vota ou vê a final. E o Brasil tá na final, é claro! Você prefere um presidente eleito ou uma seleção campeã? Qual dos dois vai mudar o país? Uma seleção campeã serve pra gente comemorar no maior porre e pra centenas de contratos milionários (nenhum conosco, também é claro!) E um presidente, serve pra que?

Eu, você, todo mundo joga uns dois reais por semana na mega-sena. Mas quanto a gente investiria num presidente? Se a gente fizer uma vaquinha, dá pra comprar um? Ou pra isso tem que ser vaquinha de latifundiário com banqueiro e empresário? E um presidente se vende? É no cheque, no cartão ou em dinheiro? Tem que ser à vista ou rola um crediário?

Se a eleição fosse hoje, você votava na Dilma, no Serra ou no Dunga? E se a eleição fosse pra técnico da seleção e o Ricardo Teixeira sozinho escolhesse o presidente? O Brasil melhorava no campo? E na cidade? Afinal, uma eleição serve pra quê? E um presidente, serve a quem?

Mas... e se a eleição não fosse hoje? Isso! Nem a eleição nem a final da Copa. Se hoje fosse por exemplo o Dia Universal do Líquido Amniótico ou da Proclamação da Escravidão? Ou fosse, digamos, o Dia Mundial da Giárdia ou do Assassinato por Motivo Torpe? Ou pior ainda: se hoje fosse hoje? Só hoje, hoje e mais nada? O que você faria?

Nunca é o dia certo, não é mesmo?


Cesar Cardoso Edição de maio de 2010 da Revista Caros Amigos.