terça-feira, 27 de março de 2012


  1. Triste ver que filmes são vistos apenas porque ganharam prêmios.

  1. Triste ver o leitor que se pauta pelos livros mais vendidos.

  1. Triste ver o ouvinte que se pauta pelas músicas mais tocadas.

  1. Triste ver quem se veste com a roupa “que todo mundo tá usando”.

  1. Triste ver quem batiza o próprio filho com o nome da personagem da novela.

  1. Triste que qualquer “tendência dominante” se torne dominante apenas porque é repetida.

  1. Triste ver a inconsciência do dono prepotente da verdade.

  1. Triste a falta de pensamento sobre o que se faz e o que se vive.

  1. Bom pensar que ainda há algo a ser descoberto e que se chama liberdade, sinceridade, dignidade.
 Por Márcia Tiburi.


sexta-feira, 23 de março de 2012

VEJA A PROGRAMAÇÃO DO FIM DE SEMANA

Convite da festa Voodoohop, que propõe cortejo ao som de música brasileira e eletrônica pelo Minhocão na tarde de domingo (25)
Convite da festa Voodoohop, que propõe cortejo ao som de música brasileira e eletrônica pelo Minhocão na tarde de domingo (25)

SEXTA (23)
20h30 - Av. São João x R. Helvétia - Cinoia: Cinema para Fumantes, Cafeinólotras e Compulsivos - sessão de curtas-metragens que dialogam com a estética das ruas (Essa é pra mim)
22h - Av. São João x R. Helvétia - Pernas Dançantes - projeção móvel de pernas dançarinas criada pela artista Márcia Beatriz

SÁBADO (24)
13h - Largo do Arouche - Piquenique do Compartilhamento - comidas, bebidas e HDs cheios de mídia serão bem-vindos na tarde de compartilhamento
15h - Saída da Praça Roosevelt - Festa de Rua - a festa Santo Forte, do DJ Tutu Moraes, percorre as ruas do centro até chegar ao lardo do Arouche
21h - Largo do Arouche - Show Retriegger - acostumado a tocar em viadutos e praças, Retriegger leva seu laptop às ruas do centro
24h - Praça Marechal Deodoro - Futebol Autônomo da Madrugada - jogos abertos com duração de sete minutos
DOMINGO (25)
10h - Praça Marechal Deodoro - Oficina de Maracatu - o grupo coro de Carcarás comanda o encontro
10h - Minhocão - Ioga ao ar livre - a professora Katerina Volcov oferece aula no asfalto do elevado
15h - Minhocão - Festa Voodoohop - tradicional festa do centro faz cortejo ao som de música brasileira e eletrônica
17h - Minhocão - Ação #13 - performance aberta baseada em textos de Clarice Lispector

terça-feira, 6 de março de 2012

The Joy of Books

Conhece-te a ti mesmo





Decidi mudar. Não serei mais aquela pessoa que acha que as pessoas não mudam e que não há história, mas sim um eterno retorno do mesmo. Nietzsche nunca mais, só Rousseau e seu estado de natureza angelical.
Acredito agora nas primaveras que cortam o mundo. Fui à livraria mais próxima, ou melhor, ao iPad mais próximo, e comprei um livro que me indicaram: "Dez passos para ser um novo Pondé", autoria de um certo sábio chinês que talvez seja um neto de coreano nascido na Califórnia de pais porto-riquenhos.
O primeiro passo é aprender a respirar. Sou dono da minha respiração agora. Em seguida, alimentação. Nunca mais carne vermelha. De início, ainda frango e peixe, mas em breve pretendo me tornar um amante das rúculas e alfaces, mas sempre pedindo perdão por precisar tirá-las de sua vida doce e promissora fazendo fotossíntese. Coca-Cola, nem pensar. Além do mais, é americana! Vinho, só natural.
Um segredo: continuarei a ir aos EUA porque um tênis lá custa cinco dólares! Irei escondido e voltarei com dez malas. Mas, temos ou não direito a ter tênis baratos? Acho uma falta de respeito proibir as pessoas de comprar tênis e jogos eletrônicos baratos em Miami.
Amarei a África. Abraçarei todas as ONGs do mundo. Direi às pessoas que elas são lindas e que o mundo faz parte de uma confederação cósmica. Os maias foram o povo mais avançado da história e decidi frequentar escolas aborígenes para aprender seu complexo modo de criar sociedades mais justas.
Religião: nunca mais essa coisa pesada de judaísmo e cristianismo, religiões que nos estragam com sua moral "imposta". Candomblé também não. Claro, como é religião africana, seria aprovada pelo meu novo eu, mas em alguns terreiros baixam pombagiras, e elas foram prostitutas e adúlteras, e não quero nem chegar perto disso! Aliás, decidi que essas coisas não existem.
Minha nova religião será uma forma de budismo light, aquele tipo que cultua a energia do universo. Sei que existem outros tipos, mas aqueles são autoritários. Toco as plantas com mais cuidado e percebi que elas são mais sábias do que Freud. Claro, comprei uma estatueta de um golfinho e joguei fora aquela esfinge do Édipo horrorosa que minha irmã me deu em Londres.
Nunca mais tragédia grega, agora só revistas que nos ensinam como o mundo pode ser melhor se arrumarmos nossos sofás de forma mais harmônica com as estrelas. Contratei uma mestra em decoração oriental. Ela é uma mulher supermagra e equilibrada. Imagine que curou um câncer em seu gato com reiki.
Direi para todo mundo que não gosto de dinheiro e que gosto das pessoas pelo que elas são e não pelo que elas têm. Perguntarei aos artistas com consciência social o que posso dizer e fazer.
Vendi meu horroroso carro inglês. Estou aprendendo a andar de bike (já sabia andar de bicicleta, mas bike é outra vibe). Ainda que tenha que atravessar as ladeiras das Perdizes para ir trabalhar (pena que ainda tenha que fazer parte desse mundo terrível de pessoas que trocam sua dignidade por dinheiro), já me explicaram que cada pedalada evita duas moléculas de gás carbônico, o que faz de mim uma pessoa com pegada de carbono sustentável.
Sexo, agora, só verde. Se provarem que esperma polui o mundo, evitarei o orgasmo, assim como na Idade Média dizem que mulheres santas evitavam gozar para serem puras aos olhos de Deus. Enfim, sinto-me leve com meu novo eu. Provavelmente, serei mais amado, e isso é que conta, não? Acredito, agora, num mundo melhor.
De repente, acordei. Sentei na cama. Ao lado, minha mulher dormia, com seu corpo de pecadora.
Fui até a biblioteca e vi os livros de Nietzsche, Freud, Pascal, Dostoiévski, Cioran, Bernanos, Roth, Camus, Nelson Rodrigues me olhando com olhos de profetas.
Os dedos indicadores em riste apontavam para mim.
Ao lado de minha estatueta da esfinge de Édipo, lia-se: "Conhece-te a ti mesmo". Voltara a ser eu mesmo. Esse miserável escravo das moiras, de felicidade complicada, doçura rara, boca seca e olhos vermelhos.

Reconheci-me: sou o mesmo pecador de sempre, sem esperança.


LUIZ FELIPE PONDÉ (jornal FSP - 05.03.2012)  |  Fonte do artigo completo: AQUI