segunda-feira, 26 de setembro de 2011
sábado, 24 de setembro de 2011
Moral da História
Estou em choque... boquiaberta que nem sei por onde começar a me expressar.... quando vi a matéria que está sendo veiculada na mídia no momento, do garoto de 10 anos que atirou na professora e depois suicidou-se com a arma do pai, não acreditei...
O pior são os comentários que os veículos de comunicação fazem a respeito do assunto... ouvi em um jornal que estimo muito, mas me decepcionou, que escola tem que assumir o papel de tratar e identificar os "surtos" que os alunos tem, ou seja, além de sermos professores temos de ser também terapeutas....
Fico imaginando o que levou um menino a tomar esta atitude... falam que ele sofria de Bullyng, mas quem não sofre? Ouvi também que a escola e os pais não prestaram atenção na criança e por isso não identificaram que ela estava passando por alguma crise... tudo bem, até concordo com esta possibilidade, mas o que fazer diante de uma situação destas?
Fico pensando, pensando e não consigo achar uma lógica.... Este já não é o primeiro caso polemico, temos o de Embu, Realengo entre outros que não chegam ao nosso conhecimento, então me pergunto, de quem é a responsabilidade?!
Parece que estamos em um jogo onde a culpa é minha então eu jogo pra quem eu quiser....
Posso estar equivocada, mas acredito que todos somos culpados, hoje estamos preocupados em salvar o planeta, mas não ligamos para o nosso cotidiano, esses dias ouvi o *Pondé falar algo em uma entrevista que se encaixa perfeitamente, "Ama a humanidade, mas detesta seu semelhante". Estamos TÃO preocupados com uma serie de questões do "politicamente correto" que não conseguimos interferir no que é relevante ao nosso cotiano, que talvez seria a forma mais sensata de melhorarmos o futuro.
Na boa, não acredito que uma criança pense "ah, hoje não estou legal então vou matar alguém e me matar", provavelmente esta criança deve ter apresentado alguns sinais de que tinha algum problema... Onde este pai estava com a cabeça de ter uma arma em casa acessível para seus filhos?... Li em jornal de grande circulação vários comentários, do tipo coitadinho dos pais, a culpa é da escola.... peraí... culpa da escola.... A culpa é de todos aqueles que ao invés de colocarem limites no(s) seu(s) filho(s), acham bonitinho eles faltarem com respeito, é daqueles que compram o respeito dos filhos com um tenis novo, respeito que dura menos que o tenis, é daqueles que jogam a responsabilidade da educação dos seus filhos para terceiros, quartos, quintos...
Acho que está faltando assumir que somos responsáveis pela construção moral do sujeito, caso contrário, significa que não sabemos bem o que queremos para o mundo que "vamos salvar"!
O pior são os comentários que os veículos de comunicação fazem a respeito do assunto... ouvi em um jornal que estimo muito, mas me decepcionou, que escola tem que assumir o papel de tratar e identificar os "surtos" que os alunos tem, ou seja, além de sermos professores temos de ser também terapeutas....
Fico imaginando o que levou um menino a tomar esta atitude... falam que ele sofria de Bullyng, mas quem não sofre? Ouvi também que a escola e os pais não prestaram atenção na criança e por isso não identificaram que ela estava passando por alguma crise... tudo bem, até concordo com esta possibilidade, mas o que fazer diante de uma situação destas?
Fico pensando, pensando e não consigo achar uma lógica.... Este já não é o primeiro caso polemico, temos o de Embu, Realengo entre outros que não chegam ao nosso conhecimento, então me pergunto, de quem é a responsabilidade?!
Parece que estamos em um jogo onde a culpa é minha então eu jogo pra quem eu quiser....
Posso estar equivocada, mas acredito que todos somos culpados, hoje estamos preocupados em salvar o planeta, mas não ligamos para o nosso cotidiano, esses dias ouvi o *Pondé falar algo em uma entrevista que se encaixa perfeitamente, "Ama a humanidade, mas detesta seu semelhante". Estamos TÃO preocupados com uma serie de questões do "politicamente correto" que não conseguimos interferir no que é relevante ao nosso cotiano, que talvez seria a forma mais sensata de melhorarmos o futuro.
Na boa, não acredito que uma criança pense "ah, hoje não estou legal então vou matar alguém e me matar", provavelmente esta criança deve ter apresentado alguns sinais de que tinha algum problema... Onde este pai estava com a cabeça de ter uma arma em casa acessível para seus filhos?... Li em jornal de grande circulação vários comentários, do tipo coitadinho dos pais, a culpa é da escola.... peraí... culpa da escola.... A culpa é de todos aqueles que ao invés de colocarem limites no(s) seu(s) filho(s), acham bonitinho eles faltarem com respeito, é daqueles que compram o respeito dos filhos com um tenis novo, respeito que dura menos que o tenis, é daqueles que jogam a responsabilidade da educação dos seus filhos para terceiros, quartos, quintos...
Acho que está faltando assumir que somos responsáveis pela construção moral do sujeito, caso contrário, significa que não sabemos bem o que queremos para o mundo que "vamos salvar"!
terça-feira, 20 de setembro de 2011
domingo, 18 de setembro de 2011
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
Show no Sesc Vila Mariana
Ô vida bandida.... kkkk.... domingão espera..... Showzaço do Pitanga em Pé de Amora.... só pq não tinha pra onde ir.... agora tem vários, ter que escolher é foda!!!!
Com trabalho totalmente autoral, influenciado por compositores como Chico Buarque, Tom Jobim e Pixinguinha, o grupo paulistano Pitanga em Pé de Amora apresenta seu primeiro CD homônimo, domingo, 18, no SESC Vila Mariana, a partir das 13h30 com entrada Catraca Livre.
O quinteto formado por Ângelo Ursini (saxofone, clarinete e flauta), Daniel Altman (violão 7 cordas e voz), Gabriel Setúbal (trompete, violão e voz), Diego Casas (violão e voz) e Flora Poppovic (percussão e voz) traz para a Praça de Eventos um show repleto de sambas, choros e frevos.
Parnaíba Festival
Iai galera dia 17 e18, mais um Parnaiba
Festival resgatando a cultura popular e
misturando o velho com o novo só pra ver o
que vai dar... O evento conta com a presença
dos Artista:
Arnaldo Antunes, Naná Vasconcellos, B Negão
e os Seletores de Frequência e Pedra Branca
são algumas das atrações do Parnaíba Festival
que acontece nos dias 17 e 18 de setembro.
Onde: Centro Histórico de Santana de Parnaiba
Quanto: No vasco, de grátis....
Festival resgatando a cultura popular e
misturando o velho com o novo só pra ver o
que vai dar... O evento conta com a presença
dos Artista:
Arnaldo Antunes, Naná Vasconcellos, B Negão
e os Seletores de Frequência e Pedra Branca
são algumas das atrações do Parnaíba Festival
que acontece nos dias 17 e 18 de setembro.
Onde: Centro Histórico de Santana de Parnaiba
Quanto: No vasco, de grátis....
terça-feira, 13 de setembro de 2011
sábado, 3 de setembro de 2011
O Nariz de Voldemort e o Crepúsculo de Harry Potter
A última década produziu duas narrativas maiores sobre a transição adolescente: Harry Potter e Crepúsculo. Harry Potter começa com um menino que perdeu os pais e esta é uma experiência chave que define o fim da infância. De repente, o mundo é dominado por tios, que existem apenas para nos tiranizar, ou colegas de escola, que devotam suas existências para nos oprimir. Assim como Harry, ao entrarmos na adolescência, perdemos o sentimento de segurança e proteção que os pais antes nos ofereciam.
Em troca entramos em um novo universo feito de representações e falsas obrigações. Em Harry Potter, este sentimento de impostura e inautenticidade é gradualmente substituído pelo encontro da “verdadeira escola”. Uma escola tal como ela devia ser, com desafios reais, atos e consequências cruéis, às vezes, dolorosamente sem volta. Apesar de vividos pelo encontro com seres imaginários, os desafios são reais.
Impostores são reconhecidos, falsos aliados se revelam, amigos inusitados aparecem no lugar de outros, antes sentidos como insubstituíveis. A saga começa com uma fórmula ancestral, revelando a cada novo filme o desmascaramento entre bonzinhos e maléficos.
Para uma geração que descobriu que “ser legal” é uma atitude, não um roteiro disciplinar a ser cumprido, Harry Potter é uma espécie de romance de formação, como Anos de Aprendizagem de Wilhelm Meister, de Goethe, no século XVIII. Harry é o pequeno babaca legal que existe dentro de todos nós. Ele ainda não se descobriu assim, pois nunca está demasiadamente preocupado consigo mesmo. A civilização escolar medieval não quer saber de suas boas intenções, ela segue a máxima de nossa indiferença educacional: faça o que deve, pense o que quiser, divirta-se sempre que possível. É assim que ela fornece a estrutura narrativa que prepara nossos jovens para vidas organizadas ao modo de uma carreira.
Desde os RPGs como Dungeon Dragons na década de 1990, até os vídeo games da série Mario Bros., nos anos 2000, chegando ao atual Call of Duty, a vida é apresentada como um corredor. Não se preocupe muito em escolher os obstáculos, alguém vai fazer isso por você. O importante é que você esteja preparado para a próxima fase.
No decorrer da série os cenários ficam mais sombrios, passando do cômico ao trágico. Há uma divisão da realidade entre os que representam a ordem do mundo como a conhecemos - os chamados trouxas – e os que vivem a realidade paralela de Hogwarts. Lord Voldemort é nosso representante adulto no mundo da magia. Tal qual um típico adulto predador ele se alimenta do sangue de unicórnios. Sempre em processo de regeneração de seu corpo perdido, “aquele cujo nome não deve ser pronunciado”, tenta voltar da morte. As Relíquias da Morte são a história dentro da história, o ponto no qual a ficção nos apresenta seu fragmento de verdade sobre o real. São três as relíquias: a varinha capaz de destruir qualquer coisa, a pedra que traz alguém de volta do reino dos mortos e a capa da invisibilidade. Trazer os mortos de volta e destruir nossos inimigos são valores bem “trouxas”. A nova aptidão, reservada a Harry, é a incrível possibilidade de permanecer invisível. Curiosa proteção para uma época que mede o sucesso pelo coeficiente de visibilidade.
Voldemort são nossas cirurgias plásticas, nossa linguagem cifrada entre cobras do mundo profissional, nosso exército de zumbis corporativos, nossa orientação para resultados a custos devastadores. O nariz de Valdemort parece mal constituído, meio nublado e disforme, como que a revelar que há algo de suspeito no personagem. São como figuras de Esher, que precisam ser vistas em determinado ângulo para produzir uma forma harmoniosa, e que olhadas ingenuamente aparecem como uma nódoa ou uma imperfeição na imagem. Ótima representação para os trouxas, obcecados por um pequeno detalhe narcísico que absorve para si toda a importância do universo.
Dumbledore é o diretor da escola. Professor perfeito: atrapalhado, mas certeiro na inversão de regras, ambíguo, mas decidido quanto ao seu lugar. O sujeito certo para administrar um universo em indeterminação constante. Quando o cinema quis inventar uma amante de juventude J. K. Rowling vetou afirmando que queria ele como um personagem sugestivamente homossexual.
Harry Potter teve seu momento multicultural, com a invasão de orientais, indianos, africanos que exprimiam esta ideia de que teremos uma nova geração de jovens adultos avessos à segregação. Parece que a coisa não pegou e a superpopulação dos filmes intermediários deu lugar ao isolamento e devastação que nos episódios finais parasitam a estética de Crepúsculo. Também não funcionou a ideia de que Harry teria uma namorada, escolhida em concurso público.
Não podemos entender esta geração sem ligar Harry Potter a sua saga complementar invertida, cujo tema é o namoro, ou seja, Crepúsculo. Ter uma namorada levaria Harry, imediatamente, a assumir sua face Voldemort. É só no final que descobrimos como Harry e seu duplo malvado, possuem algo íntimo em comum, mesmo que isso já se anunciasse em sua cicatriz. Nem o multiculturalismo nem a hipótese sexual de Harry serão abandonados, mas integrados em um problema mais simples: a vida real já está cheia de dragões, fênix, hipogrifos, dementadores, comensais da morte.
Como na vida real é o inesperado Neville que surge do nada, como no poema de Drumont, para salvar Hogwarts. Aqui talvez se trate da recuperação dialética do personagem histórico Neville Chamberlain, primeiro ministro inglês que antecedeu Churchil. O sujeito achava que entregando alguns territórios para Hitler ele iria sossegar. Voltou para casa, satisfeito e orgulhoso por ter evitado a guerra, para logo depois descobrir que se tornaria o protótipo mundial do trouxa bem intencionado.
Desta vez Neville deu a volta por cima e mostrou que nem toda concessão é covardia e nem toda prudência é falta de atitude.
O segundo modelo de passagem da infância para a adolescência é naturalmente representado pela saga Crepúsculo. Aqui a trama assume como protagonista uma menina que inicia sua adolescência chegando a uma terra desconhecida. Ela tem que se haver com um pai que de repetente se torna um estranho. Deixar-se picar não é apenas uma metáfora razoável para o ato sexual, que depois de iniciado não para nunca mais, mas também um confronto reconciliatório com monstros imaginários. Como se trata de uma versão mais feminina da adolescência o processo de decisão e de reconhecimento na alteridade, fica mais claro desde o início. Bela pratica um desdobramento contínuo de escolha cujas implicações lhe são obscuras, sem que ela saiba exatamente o que está escolhendo. Ela quer saber onde está a saída, mas a cada vez descobrimos que é ela mesma quem fecha as portas pelas quais poderia querer retornar.
O nariz de Voldemort é perfeito para representar este ponto de contato entre as duas histórias. Lembremos que seu nariz deformado é um defeito causado pelo excesso oral praticado sobre os unicórnios rejuvenescedores. Os unicórnios eram seres que só poderiam ser capturados quando uma virgem se aproximasse deles, quando estivessem bebendo água. Foi assim que eles mesmos passaram a representar a pureza e a virgindade, como se vê em inúmeras tapeçarias medievais. Ora o nariz de Voldemort é o sintoma de como a essência dos adultos trouxas, a forma fundamental de sua maldade, consiste em vampirizar o estilo de vida adolescente.
No final Harry Potter descobre que não é assim tão estranho à Valdemort.
Eis aí um modelo da passagem da criança ao adulto, sintetizada magistralmente na cena em que Harry Potter quebra a varinha que reunia sobre si “todos os poderes”. Tornar-se adulto é descobrir que tal varinha não existe, que ela foi uma criação necessária e provisória de nossa adolescência. Como diria o sábio Dumbledore: “São as nossas escolhas, Harry, que revelam o que realmente somos, muito mais do que as nossas qualidades". Perfeito para uma geração que está cansando do sucesso baseado em evidências de talento.
O mal, antes vivido em figuras exteriores, quase sem imagem ou forma, vai se integrando gradualmente como parte de Harry. Para ter uma imagem de verdade é preciso absorver este ponto que a contradiz e denuncia como imagem perfeita. Este ponto torna tudo ridiculamente autêntico é o nariz crepuscular de Voldemort. Nas duas histórias aprendemos a ser realmente corajosos e a formar alguma coragem ou covardia diante da vida. Ambas trazem um mesmo valor que sobrevive à prova da experiência e dos interesses: a amizade tensa entre Rony, Hermione e Harry; a amizade precária entre vampiros homens e lobisomens. Absorver o nariz de Voldemort e manter a amizade de pé são as duas tarefas que a geração Harry Potter terá pela frente.
Christian Ingo Lenz Dunker
(*) Psicanalista, Professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP)
Em troca entramos em um novo universo feito de representações e falsas obrigações. Em Harry Potter, este sentimento de impostura e inautenticidade é gradualmente substituído pelo encontro da “verdadeira escola”. Uma escola tal como ela devia ser, com desafios reais, atos e consequências cruéis, às vezes, dolorosamente sem volta. Apesar de vividos pelo encontro com seres imaginários, os desafios são reais.
Impostores são reconhecidos, falsos aliados se revelam, amigos inusitados aparecem no lugar de outros, antes sentidos como insubstituíveis. A saga começa com uma fórmula ancestral, revelando a cada novo filme o desmascaramento entre bonzinhos e maléficos.
Para uma geração que descobriu que “ser legal” é uma atitude, não um roteiro disciplinar a ser cumprido, Harry Potter é uma espécie de romance de formação, como Anos de Aprendizagem de Wilhelm Meister, de Goethe, no século XVIII. Harry é o pequeno babaca legal que existe dentro de todos nós. Ele ainda não se descobriu assim, pois nunca está demasiadamente preocupado consigo mesmo. A civilização escolar medieval não quer saber de suas boas intenções, ela segue a máxima de nossa indiferença educacional: faça o que deve, pense o que quiser, divirta-se sempre que possível. É assim que ela fornece a estrutura narrativa que prepara nossos jovens para vidas organizadas ao modo de uma carreira.
Desde os RPGs como Dungeon Dragons na década de 1990, até os vídeo games da série Mario Bros., nos anos 2000, chegando ao atual Call of Duty, a vida é apresentada como um corredor. Não se preocupe muito em escolher os obstáculos, alguém vai fazer isso por você. O importante é que você esteja preparado para a próxima fase.
No decorrer da série os cenários ficam mais sombrios, passando do cômico ao trágico. Há uma divisão da realidade entre os que representam a ordem do mundo como a conhecemos - os chamados trouxas – e os que vivem a realidade paralela de Hogwarts. Lord Voldemort é nosso representante adulto no mundo da magia. Tal qual um típico adulto predador ele se alimenta do sangue de unicórnios. Sempre em processo de regeneração de seu corpo perdido, “aquele cujo nome não deve ser pronunciado”, tenta voltar da morte. As Relíquias da Morte são a história dentro da história, o ponto no qual a ficção nos apresenta seu fragmento de verdade sobre o real. São três as relíquias: a varinha capaz de destruir qualquer coisa, a pedra que traz alguém de volta do reino dos mortos e a capa da invisibilidade. Trazer os mortos de volta e destruir nossos inimigos são valores bem “trouxas”. A nova aptidão, reservada a Harry, é a incrível possibilidade de permanecer invisível. Curiosa proteção para uma época que mede o sucesso pelo coeficiente de visibilidade.
Voldemort são nossas cirurgias plásticas, nossa linguagem cifrada entre cobras do mundo profissional, nosso exército de zumbis corporativos, nossa orientação para resultados a custos devastadores. O nariz de Valdemort parece mal constituído, meio nublado e disforme, como que a revelar que há algo de suspeito no personagem. São como figuras de Esher, que precisam ser vistas em determinado ângulo para produzir uma forma harmoniosa, e que olhadas ingenuamente aparecem como uma nódoa ou uma imperfeição na imagem. Ótima representação para os trouxas, obcecados por um pequeno detalhe narcísico que absorve para si toda a importância do universo.
Dumbledore é o diretor da escola. Professor perfeito: atrapalhado, mas certeiro na inversão de regras, ambíguo, mas decidido quanto ao seu lugar. O sujeito certo para administrar um universo em indeterminação constante. Quando o cinema quis inventar uma amante de juventude J. K. Rowling vetou afirmando que queria ele como um personagem sugestivamente homossexual.
Harry Potter teve seu momento multicultural, com a invasão de orientais, indianos, africanos que exprimiam esta ideia de que teremos uma nova geração de jovens adultos avessos à segregação. Parece que a coisa não pegou e a superpopulação dos filmes intermediários deu lugar ao isolamento e devastação que nos episódios finais parasitam a estética de Crepúsculo. Também não funcionou a ideia de que Harry teria uma namorada, escolhida em concurso público.
Não podemos entender esta geração sem ligar Harry Potter a sua saga complementar invertida, cujo tema é o namoro, ou seja, Crepúsculo. Ter uma namorada levaria Harry, imediatamente, a assumir sua face Voldemort. É só no final que descobrimos como Harry e seu duplo malvado, possuem algo íntimo em comum, mesmo que isso já se anunciasse em sua cicatriz. Nem o multiculturalismo nem a hipótese sexual de Harry serão abandonados, mas integrados em um problema mais simples: a vida real já está cheia de dragões, fênix, hipogrifos, dementadores, comensais da morte.
Como na vida real é o inesperado Neville que surge do nada, como no poema de Drumont, para salvar Hogwarts. Aqui talvez se trate da recuperação dialética do personagem histórico Neville Chamberlain, primeiro ministro inglês que antecedeu Churchil. O sujeito achava que entregando alguns territórios para Hitler ele iria sossegar. Voltou para casa, satisfeito e orgulhoso por ter evitado a guerra, para logo depois descobrir que se tornaria o protótipo mundial do trouxa bem intencionado.
Desta vez Neville deu a volta por cima e mostrou que nem toda concessão é covardia e nem toda prudência é falta de atitude.
O segundo modelo de passagem da infância para a adolescência é naturalmente representado pela saga Crepúsculo. Aqui a trama assume como protagonista uma menina que inicia sua adolescência chegando a uma terra desconhecida. Ela tem que se haver com um pai que de repetente se torna um estranho. Deixar-se picar não é apenas uma metáfora razoável para o ato sexual, que depois de iniciado não para nunca mais, mas também um confronto reconciliatório com monstros imaginários. Como se trata de uma versão mais feminina da adolescência o processo de decisão e de reconhecimento na alteridade, fica mais claro desde o início. Bela pratica um desdobramento contínuo de escolha cujas implicações lhe são obscuras, sem que ela saiba exatamente o que está escolhendo. Ela quer saber onde está a saída, mas a cada vez descobrimos que é ela mesma quem fecha as portas pelas quais poderia querer retornar.
O nariz de Voldemort é perfeito para representar este ponto de contato entre as duas histórias. Lembremos que seu nariz deformado é um defeito causado pelo excesso oral praticado sobre os unicórnios rejuvenescedores. Os unicórnios eram seres que só poderiam ser capturados quando uma virgem se aproximasse deles, quando estivessem bebendo água. Foi assim que eles mesmos passaram a representar a pureza e a virgindade, como se vê em inúmeras tapeçarias medievais. Ora o nariz de Voldemort é o sintoma de como a essência dos adultos trouxas, a forma fundamental de sua maldade, consiste em vampirizar o estilo de vida adolescente.
No final Harry Potter descobre que não é assim tão estranho à Valdemort.
Eis aí um modelo da passagem da criança ao adulto, sintetizada magistralmente na cena em que Harry Potter quebra a varinha que reunia sobre si “todos os poderes”. Tornar-se adulto é descobrir que tal varinha não existe, que ela foi uma criação necessária e provisória de nossa adolescência. Como diria o sábio Dumbledore: “São as nossas escolhas, Harry, que revelam o que realmente somos, muito mais do que as nossas qualidades". Perfeito para uma geração que está cansando do sucesso baseado em evidências de talento.
O mal, antes vivido em figuras exteriores, quase sem imagem ou forma, vai se integrando gradualmente como parte de Harry. Para ter uma imagem de verdade é preciso absorver este ponto que a contradiz e denuncia como imagem perfeita. Este ponto torna tudo ridiculamente autêntico é o nariz crepuscular de Voldemort. Nas duas histórias aprendemos a ser realmente corajosos e a formar alguma coragem ou covardia diante da vida. Ambas trazem um mesmo valor que sobrevive à prova da experiência e dos interesses: a amizade tensa entre Rony, Hermione e Harry; a amizade precária entre vampiros homens e lobisomens. Absorver o nariz de Voldemort e manter a amizade de pé são as duas tarefas que a geração Harry Potter terá pela frente.
Christian Ingo Lenz Dunker
(*) Psicanalista, Professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP)
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